Ao longo de 35 anos, o Comunicar entrega informação sobre as atividades da PUC-Rio em todos os campos de saber. Durante esse tempo, foi premiado dezenas de vezes pelo trabalho, em todos os núcleos do projeto: Impresso, TV e Rádio. Os ex-estagiários envolvidos nas produções relembram o processo criativo e os desafios enfrentados.
A professora Leticia Hees, que ministra a disciplina Narrativas Seriadas no Departamento de Comunicação, passou pela TV PUC em 2001-2002. Graças ao programa Fome: a dor do vazio, recebeu o Prêmio Especial Fome Zero, no 4º Vídeo Saúde, da Fiocruz (2003). Quando lembra dos seus tempos de estagiária, Leticia não esconde a alegria de ter passado pelo 4º andar do Kennedy.
– A minha experiência na TV PUC foi super enriquecedora. Foi como eu descobri uma profissão que me dava muito prazer, muito entusiasmo. Eu tenho uma ligação muito forte com a Universidade, é uma vida. São 16 anos como professora e fui estagiária, então devo muito ao que eu aprendi lá.
Leticia aponta que, em sua época, havia muita liberdade para criar reportagens especiais. Fome: a dor do vazio surgiu nesse interim. Em parceria com a repórter Marcela Morato e o cinegrafista Davi Epstein, Leticia conta que foi a campo com a produção: o trio pegava o carro e ia atrás dos entrevistados. Segundo ela, os três foram sem autorização para Gramacho, onde funcionava um lixão. Não conseguiram entrar lá, mas ficaram na porta. As imagens chocantes permanecem na cabeça da jornalista.
– Ali na porta, a gente teve uma experiência de entrevistar pessoas que catam alimento para comer. Tratam do lixo, tiram do lixo a sua sobrevivência. Um personagem que aparece na reportagem mexeu demais com a gente, porque ele estava no momento pegando coisas do lixo, e ele mostrava ‘olha, está fora da validade, mas dá para comer’. Foi uma pancada. Muita pobreza, muita tristeza, foi uma produção que a gente não vai esquecer nunca mais.
A consagração pelo trabalho veio fora da PUC-Rio. Leticia soube do prêmio depois que já tinha saído do Comunicar para outro estágio, quando a editora-executiva da TV PUC, professora Marcia Antabi, lhe deu a notícia por telefone. Para ela, foi uma grande surpresa e pura alegria.
– É a premiação de um esforço. Trabalhávamos muito, éramos obsessivos. A TV PUC era nossa vida, então cada matéria a gente pegava no laço, tinha que ser a melhor do mundo. A gente era muito exigente com a produção, passávamos noites em claro escrevendo juntos.
Alegria atrasada
O Comunicar, no entanto, não foi homenageado apenas em solo brasileiro. O prestígio do projeto se estende para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Em 20 de maio de 2006, a organização da III Exposição de Pesquisa Experimental de Comunicação do Mercosul (ExpocomSur) entregou menção honrosa ao Contraponto e à Estação Pilha nas categorias Telejornal e Rádio Web, respectivamente.
Os dois foram habilitados a participar do ExpocomSur após conquistarem o primeiro lugar na edição nacional da exposição, durante o XVII Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), em setembro de 2005. Além da reconhecida qualidade dos programas, a menção honrosa foi atribuída pela ausência de concorrentes habilitados nos outros países participantes. Hoje, ambos os programas estão extintos.
Gerente na área de produtos digitais e canais pagos da Globo, Leonardo Moura passou pela Pilha de 1998 a 1999 – versão anterior à Estação Pilha, na qual trabalhava sozinho. De acordo com ele, era uma rádio experimental na web com viés editorial mais pop, mais jovem e que permitia uma navegação não linear. Um trabalho pioneiro, visto que a Pilha foi a primeira rádio web do país.
– Entrava numa premissa de como ouvir conteúdo em áudio na internet. O Pilha era um produto publicado periodicamente. Tinha as faixas, que a gente conseguia até como cortesia de algumas gravadoras, e tinha as entrevistas com os músicos em geral, sempre alguém mainstream e alguém mais indie. Cada programa tinha um tema ancorado no gênero musical: a gente juntava a música com a informação sobre o artista.
Moura comenta que gostou muito da experiência. Segundo ele, havia muita liberdade de sugerir pautas e gravar, era uma forma de trabalhar fluida e tranquila. O curioso é que, mesmo após um período marcante no Comunicar, Moura só soube do prêmio à Estação Pilha em contato com esta reportagem, 16 anos depois. Porém, ficou feliz com a notícia.
– Sempre é gratificante você ter um reconhecimento. A Intercom é muito reconhecida como uma entidade que organiza as pesquisas de comunicação, então é um prêmio que tem um valor acadêmico importante.
Um dia intenso
Em 2013, o Rio de Janeiro recebeu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento que promove ações da Igreja Católica para os jovens e com os jovens. Devido à tradição religiosa da Universidade e a relevância da cerimônia, o Comunicar elaborou um caderno especial na época, que foi agraciado com o Prêmio Dom Helder Câmara para Imprensa (2014), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O ex-estagiário do Núcleo Impresso, Rodrigo Zelmanowicz, explica que a equipe inteira participou da cobertura, cada um com uma função. Editor do Esporte Espetacular pela Globo-SP, ele conta que os repórteres foram para a rua atrás de histórias e personagens interessantes. Zelmanowicz escreveu duas matérias: “Colombianos convocam jovens ao compromisso com Cristo” e O ‘povo de Abraão’ na Jornada.
De acordo com ele, a primeira reportagem foi sobre colombianos que saíram do seu país com uma cruz toda assinada. A outra abordou a história de um grupo de católicos assírios, um povo sem território espalhado pelo mundo. Para Zelmanowicz, a apuração foi intensa.
– Fomos de van até o Forte de Copacabana, depois andamos pela praia até o palco onde o Papa Francisco S.J. iria aparecer, perto do Leme. Eu encontrei grupos de todos os lugares do planeta. Falei com vários, mas só dois foram para o papel. Eu tenho foto conversando com um grupo de meninas assírias no sol, e outra falando com os colombianos na chuva.
Zelmanowicz afirma que passou o dia inteiro na cobertura, só voltou para casa à noite. Segundo ele, o caderno levou algumas semanas para ficar pronto, mas a espera valeu a pena: foi um orgulho para a equipe inteira.
– Não é sempre que um jornal da Universidade recebe um prêmio. Todo mundo ficou bem feliz. Tem muito a ver também com a oportunidade que a gente teve da JMJ ser aqui no Rio; estamos do lado. Gostei bastante, foi um trabalho jornalístico real, com caderninho e gravador na rua. Eu vi que queria fazer isso para o resto da vida.
Confira abaixo todos os prêmios do Comunicar:
Núcleo de TV
Em 23 anos de existência, o Núcleo de TV do Projeto Comunicar conquistou 13 prêmios e duas menções honrosas, uma nacional e outra internacional. O programa especial Pilotis “Paternidade ausente, histórias incompletas” é a recordista, com quatro prêmios.
- Programa Pilotis “Fome: a dor do vazio” – Prêmio Especial Fome Zero, no 4º Vídeo Saúde, da Fiocruz (2003)
- Programa Pilotis “Nós que sonhávamos com a revolução” – Destaque do Júri no 12º Gramado Cine Vídeo (2004)
- Telejornal Contraponto “Medicamentos ao alcance de todos” – Melhor Telejornal na 4ª Expocon (2004)
- Programa Pilotis “Açougue da alma” – Destaque do Júri no 14º Gramado Cine Vídeo (2006)
- Telejornal Contraponto “Medicamentos ao alcance de todos” – Menção Honrosa na 4ª Expocon Mercosul (2006)
- Programa PUC Artes “Demorô, já é” – Melhor Documentário no 17º Gramado Cine Vídeo (2009)
- Programa Pilotis “Paternidade ausente, histórias incompletas” – Melhor Reportagem e Melhor Vídeo de Televisão Universitária Brasileira, na 18ª edição do Gramado Cine Vídeo (2010); Melhor Documentário no Prêmio Clara de Assis (2011); Melhor Reportagem no 7º Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro (2011)
- Programa Pilotis “Filhos do abandono” – Melhor Documentário no Prêmio Clara de Assis (2012); Melhor Documentário no 7º Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro (2011)
- Programa PUC Artes “Subterrâneos da alma” – Menção Honrosa no 7º Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro (2011)
- Programa PUC Artes “As cores de Portinari” – Melhor Programa de TV Universitária no 8º Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro (2013)
- Programa Pilotis “A cor da liberdade” – Melhor documentário de TV Universitária no 9º Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro (2014)
Núcleo Impresso
- Prêmio Dom Helder Câmara para Imprensa (2014) – Edição especial sobre Jornada da Juventude
Núcleo de Rádio
- Moção de louvor e aplauso a Exma. Clarisse Abdalla, âncora do Programa “Revista Jovem” pelo transcurso do 10º aniversário da Rádio Catedral FM 106.7 (2003)
- Estação Pilha – Menção Honrosa pela categoria Rádio Web na III ExpocomSur (2006)