Dois irmãos, um Comunicar

Dois irmãos, um Comunicar

Os Autran, os Maia, os Boaventura, os Maduell, os Duarte, os Malan, os Tabak. Os sobrenomes não enganam: o Comunicar é também uma continuidade do ambiente familiar. Entre os mais de 2 mil ex-estagiários, o projeto registra os percursos de irmãos que puderam aproveitar aprendizados em momentos diferentes. Caçulas e primogênitos reconhecem o Comunicar como um local de boas lembranças, que aprimora o que é ensinado nas salas de aula e constrói uma ponte para o mercado de trabalho.

Incentivo precoce

Para o jornalista Gustavo Autran, a trajetória da irmã Paula Autran no Comunicar foi um estímulo para a escolha pelo projeto. Ele conta que Paula sempre mostrava o que tinha feito no período de estágio dela e, constantemente, conversavam sobre pautas do Jornal da PUC. Segundo Gustavo, os colegas dele tinham curiosidade com relação à experiência de Paula, pois logo ela ganhou espaço no jornalismo após passar pelo Comunicar.

— Minha irmã adorava o Comunicar e, vendo a vibração dela, aquilo de alguma maneira me contagiou também. Ela tinha passado para o Comunicar antes, então tinha ideias, sugestões. A gente trocava muita bola. A experiência dela era inspiradora, tanto para mim quanto para os meus amigos que compartilhavam comigo essa vivência.

Paula entrou na PUC-Rio em 1989 e iniciou no projeto em 1990. Ela foi a primeira aluna do 3º período a se tornar estagiária do Comunicar – em geral, estudantes de períodos mais avançados eram selecionados para fazer parte da a equipe. Depois, ela trabalhou no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia e, atualmente, escreve para a Veja Rio. Durante o estágio, Paula atuava como repórter do Jornal da PUC e do PUC Urgente, únicos veículos que existiam naquela época. Ainda hoje, ela diz ser muito grata, pois foi na redação montada no campus da Gávea onde aprendeu tudo sobre jornalismo.

— Toda a minha base do jornalismo é do projeto Comunicar. Não sabia o que era um lead, tinha vergonha de fazer entrevista. Eu tinha que produzir três matérias para o Jornal da PUC, tinha que entrevistar três pessoas diferentes, e não conseguia falar com ninguém. Aprendi desde técnicas até a dar importância ao olhar em uma entrevista.

No período de estágio, Paula trabalhou com outros nomes renomados da imprensa brasileira. Dentre eles, Márcio Gomes (âncora do CNN Primetime), Mônica Weinberg (diretora executiva da Veja), Silvio Essinger (repórter do Segundo Caderno de O Globo) e Christiane Pelajo (apresentadora do Conexão GloboNews). Com o histórico promissor dos alunos que passaram pelo projeto, Paula conta que estimulou bastante o irmão.

— Eu sempre incentivei muito. Porque minha experiência foi muito boa, por isso, sempre falei muito bem do Comunicar para todo mundo que estava realmente interessado em jornalismo, que queria aprender, se envolver.

Gustavo entrou na PUC-Rio em 1992 e iniciou a experiência no Comunicar no ano seguinte, mas Paula já havia se formado. Após o estágio, ele passou pelo Jornal Fluminense, Jornal do Brasil, O Dia, Veja Rio, Funarte, Isto é Gente, O Globo, Agência Approach e, hoje, é gerente de comunicação da editora Intrínseca, que já lançou best-sellers como 50 Tons de Cinza, A Menina que Roubava Livros e O Extraordinário.

Assim como a irmã, o jornalista afirma que o Comunicar foi essencial para o desenvolvimento de sua carreira. Para ele, o projeto foi o ponto de partida para entender o modus operandi da profissão, além de permitir que ele ficasse rodeado por profissionais que o orientaram e ensinaram muito mais do que os princípios básicos do jornalismo.

Vista para o futuro

Leonardo Maia, abaixado a esquerda – Projeto Comunicar (2001)

A história dos irmãos Maia não é muito diferente. Leonardo Maia estagiou no Comunicar em 2001 no Núcleo de Jornalismo Impresso e, mais tarde o irmão, Lucas, também ingressou no projeto. Um motivo de muito orgulho para Leonardo. Oito anos mais velho que Lucas, o primogênito afirma que foi incrível saber que o mais novo passaria pela mesma fonte de treinamento que ele, pois sabia que estaria entre excelentes profissionais.

— Quando o Lucas falou que ia fazer (prova para o estágio), achei show. Sentia uma certa admiração por ele fazer a mesma coisa que eu. Achei muito legal, pois sabia que ele estaria entre os melhores e que ali também ia seguir um bom caminho. Ele via como aquilo me ajudou também, como o Comunicar foi decisivo para eu começar no Jornal do Brasil e depois seguir adiante.

Lucas entrou na PUC-Rio em 2005 e começou a estagiar no Comunicar a partir do 4º período no núcleo que produz o Jornal da PUC e PUC Urgente e, posteriormente, fez prova para o Núcleo de TV. A deficiência visual não foi empecilho para ele, que realizou uma série de trabalhos no projeto e, até hoje, ainda é muito elogiado pelos colegas e chefes do Comunicar. O jornalista lembra que não sentiu nenhum tipo de dificuldade durante o estágio, no qual se sentiu muito acolhido.

— Fui muito feliz e, sinceramente, não tive nenhum desafio por conta da deficiência visual. Eu precisava de um software específico nos computadores do Comunicar que foi instalado sem nenhuma dificuldade. Foi um dos períodos mais felizes da minha vida profissional, e as pessoas no Comunicar me abraçaram totalmente. Todo mundo era enlouquecido pela minha cadela-guia, todo mundo amava.

Lucas Maia, de camisa laranja – Projeto Comunicar (2006)

Atualmente, Lucas é colunista do Folha de S. Paulo, da Revista Piauí, e professor de Política com Métodos de Pesquisa Quantitativa na Escola de Sociologia, Política e Estudos Internacionais da Universidade de Bristol, na Inglaterra. As análises políticas dele já foram publicadas no Washington Times, Radio France Internationale, GloboNews e Jornal O Globo.

O sucesso do irmão não é novidade para Leonardo, que exalta a inteligência e o brilhantismo de Lucas. O primogênito dos Maia foi o primeiro jornalista da família e, após passar pelo projeto, trabalhou no Jornal do Brasil, O Estado de S.Paulo, Extra, O Dia e na Inter TV Planície.

Leonardo revela que, durante o período de estágio no Comunicar, uma equipe do JB foi até a redação do projeto para recrutar novos estagiários e ele foi um entre os que passaram na prova. Com isso, o jornalista reconhece o Comunicar como uma grande referência de jornalismo no Rio de Janeiro.

— No JB, trabalhei com muita gente que tinha passado pelo Comunicar antes de mim, e o mesmo aconteceu no Globo e no Estadão. Você vê como é o legado do Comunicar no jornalismo do Rio, é uma grande escola que alimentou muitas empresas de comunicação, é um celeiro de talentos. Eu sabia que o Comunicar era algo de excelência e que abriria muitas portas.

Leonardo decidiu deixar o jornalismo para se tornar piloto de avião, mas, apesar da mudança de rota, diz que vai guardar os ensinamentos profissionais, o crescimento pessoal e as amizades que fez dentro do Comunicar. Uma experiência que foi muito positiva para a sua formação.

— A gente se divertia muito e aprendia muito também. Era um ambiente de descontração, mas também de muita seriedade, o que nos preparou para o impacto do mercado de trabalho, em questão da cobrança, da responsabilidade e tudo mais. O Comunicar é um núcleo de treinamento da Universidade, mas também é muito rigoroso nas cobranças, havia um ambiente que, apesar de ser de aprendizado, estava ali para estimular e desenvolver.

Da mesma forma que Leonardo, Lucas diz que o Comunicar foi essencial para que ele se desenvolvesse no jornalismo, e afirma que tudo o que aprendeu sobre disciplina, texto, apuração e ética profissional foi com os chefes do Comunicar. Para ele, o projeto é a melhor experiência profissional dentro da Universidade na área de comunicação. Dentre os trabalhos mais marcantes, ele cita o telejornal Contraponto, que era produzido pela TV PUC, e um documentário sobre linguagem no programa de pautas especiais Pilotis. Lucas ainda destaca o trabalho que realizou para o Especial 20 anos do Comunicar, quando era repórter do Núcleo Impresso.

No projeto, Lucas fez amizades e ainda mantém contato com ex-colegas e com as ex-chefes, que o orientaram nos dois núcleos em que trabalhou, o Impresso e a TV PUC. O jornalista afirma que sempre acompanha o trabalho dos antigos companheiros e se impressiona ao ver como todos se realizaram profissionalmente.

Lucas considera que o Comunicar consegue manter o espírito jovem mesmo após 35 anos de atividade e isso, na opinião do jornalista, é por conta da excelência dos coordenadores, sempre atualizados com as novidades do mercado.

O histórico familiar dos Maia no Comunicar vai além dos irmãos. Em 2015, Paulo Fernando Abreu, primo de Leonardo e Lucas, estagiou na Assessoria de Imprensa do Comunicar. O jovem permaneceu por um período no projeto e depois passou pelo Espaço CEL (Assessor de comunicação), Expeer (Analista de comunicação) e Deal Comunicações (Analista de mídias digitais). Paulo morreu em 2021, com 28 anos, em decorrência da Covid-19.

Espelho reverso

Assim como ocorreu com os Maia, Carlos Eduardo Duarte se inspirou na experiência do irmão sete anos mais velho, João Paulo, como um norte para a própria carreira. Mas a trajetória no projeto seguiu outro rumo. Mais conhecido como Duda, ele entrou na PUC-Rio em 2006.1. Logo no 1º período, fez a prova para estagiar no Núcleo de Assessoria de Imprensa, onde permaneceu cerca de seis meses. No 2º período, foi para Rádio Catedral, na qual fazia o Informe Catedral. Havia uma parceria da rádio com o Comunicar – Duda era estagiário do projeto, mas trabalhava no Catete, fora do campus Gávea. Ao todo, ficou um ano e meio no Comunicar.

Hoje, Duda trabalha na Evermart em brand experience (experiência da marca) – área de marketing e é o apresentador do podcast da empresa, Evercast. Ele reforça a importância do Comunicar em sua formação e afirma: o projeto não é para qualquer um.

— O Comunicar dá oportunidade de trabalhar muito, mas o estagiário recebe uma recompensa forte. O aluno aprende bastante, tem reconhecimento dentro da Universidade, todo mundo do Comunicar é respeitado. Não é só confiança que se adquire, o estudante sai capacitado e treinado para o mercado. O fato de eu ter feito PUC me ajudou absurdamente com relacionamentos de trabalho.

João Paulo (à esquerda) e Duda Duarte (à direita) – Reprodução

O curioso é que Duda ingressou na PUC-Rio no período seguinte à formação de João Paulo (2005.2), sete anos mais velho. Por conta da convivência, teve contato com a trajetória do irmão ainda nos tempos de colégio: de acordo com Duda, João Paulo trazia o PUC Urgente todos os dias para casa.

— Eu já tinha visto na carreira dele que foi uma porta de entrada muito forte, mas eu não escolhi porque ele fez. Foi interessante trabalhar no mesmo lugar que o João, eu comecei a entender que ele me inspirou muito a ser jornalista. Meu irmão é um fenômeno da comunicação, um grande craque na minha casa.

João Paulo entrou no Comunicar em 2003.1 e ficou por cerca de um ano no Núcleo de TV, no 4º andar do Edifício Kennedy. Atualmente, trabalha na agência de comunicação corporativa da FSB, como diretor da inteligência de dados. Para ele, o Comunicar serviu como uma vivência simulada de uma redação, tanto que diz ter se sentido mais preparado quando trabalhou na TV Globo.

João Paulo recorda que a família se reunia para assistir às suas reportagens da TV PUC. Muitas vezes, as produções eram gravadas em fita VHS para que João levasse o material para casa. João Paulo observa, no entanto, que ele e o irmão tiveram vivências bem diferentes dentro do projeto, até pelas áreas de atuação distintas. Não houve troca de experiências sobre o Comunicar. É como se o primeiro influenciasse o segundo por linhas tortas.

— O irmão mais novo sempre tem uma admiração, um espelho de crescimento. Acredito que o Duda, pela proximidade comigo, pode ter se inspirado na minha carreira. Ele pode ter visto os problemas, as coisas boas e ruins que eu passei. Ele via a minha vida de jornalista começando plantão sábado e domingo, passando a noite toda fora. Deve ter visto que não queria esse lado de telejornalismo, que exige uma doação quase episcopal. Inspirou, mesmo que fosse para ele não seguir os meus passos que eu. Nunca houve uma ação direta, não sou como o Mestre Yoda.

Intervenção do acaso

Há episódios em que irmãos não só trabalharam juntos, como foram pegos de surpresa pela coincidência. É o caso dos professores Itala e Diogo Maduell, do Departamento de Comunicação. A história começou em março de 1990, quando Itala, aos 17 anos, entrou na PUC-Rio para cursar Jornalismo e encarou a primeira seleção de estágio da carreira quando fez prova para o Comunicar. Mas Itala ficou poucas semanas, porque no mesmo mês passou na concorrida seleção de estágio do Jornal do Brasil.

Quatro anos mais novo que Itala, Diogo entrou na PUC-Rio em 1998 e se formou em 2002. Em 2001, começou a trabalhar no Comunicar como ilustrador do PUC Urgente e do Jornal da PUC. O curioso é que, ao contrário da irmã, Diogo cursava publicidade. Depois de muito tempo como ilustrador, foi efetivado e convidado para dar aula. Com isso, a situação se inverteu: o caçula virou professor da PUC antes da primogênita. E Itala não deixa de reconhecer o inusitado da situação.

— Sou a irmã mais velha, mas o Diogo começou a trabalhar na PUC há bem mais tempo, então aqui eu sou conhecida como ‘a irmã do Maduell’, adoro. Tenho o maior orgulho dele.

Diogo e Itala Maduell – Projeto Comunicar (2022)

No entanto, os caminhos fraternos se cruzaram novamente no próprio Comunicar. Muitos anos depois de formada, Itala voltou ao campus Gávea para ser professora e trabalhar no Portal PUC-Rio Digital, um laboratório de jornalismo do Departamento de Comunicação. Em dado momento, o Comunicar e o Portal se uniram. Itala foi editora do Jornal da PUC Online por um ano (2016-2017), e Diogo editor de arte. De acordo com ela, foi uma parceria interessante por ambos serem complementares: um Maduell na parte de texto, o outro na parte gráfica. Para ele, foi uma chance de se reaproximar da irmã.

— Tivemos a oportunidade de se reencontrar por um grande período, ficar mais ligado, voltar para casa de carona discutindo algumas coisas de trabalho. Houve algumas discussões típicas de irmão também, mas foi legal. Eu quis fazer um caminho diferente, mas acabou que estagiei no Jornal, e trabalhei com ela assim. Eu não sabia que ela tinha passado pelo Comunicar, mas quando entrei no projeto, a Ritinha (Rita Luquini, Coordenadora Administrativa) viu meu sobrenome e falou ‘você é irmão da Itala’, todo mundo lembrava.