Uma das marcas do curso de História é o investimento na interdisciplinaridade entre a graduação e pós-graduação, com incentivo a pesquisas de iniciação científica. Em 2021, o departamento vai completar 80 anos de existência e o mestrado, 35 anos de criação
O Departamento de História tem a maior licenciatura da PUC-Rio e uma longa tradição não só em capacitar professores, mas também profissionais da área de pesquisa. O curso foi o primeiro a oferecer graduação a distância para educadores sem qualificação pedagógica, os chamados docentes leigos. Criado em 2005 em convênio com o Ministério da Educação (MEC), o projeto visava habilitar pessoas de áreas carentes do interior do país. Prestes a completar oito décadas, o departamento oferece como novidade a introdução do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), da Residência Pedagógica, e a formação de novas plataformas digitais para complementar o ensino a distância.
O curso de graduação em história foi fundado em 1941 e fazia parte da Faculdade de Filosofia. Depois de 28 anos, se tornou Departamento de História e Geografia, mas com coordenações separadas para cada curso. O mestrado e o doutorado foram criados, respectivamente, em 1986 e 1998. Um dos primeiros a se consolidar na Universidade, o departamento é reconhecido pela interdisciplinaridade e a troca entre o pedagógico e a pesquisa.
O diretor do departamento, professor Marcelo Jasmin, diz que a proximidade com outras disciplinas, o caráter reflexivo da discussão e da formação em história marcam a trajetória do curso de História nas últimas décadas. Ele observa que é importante não só oferecer eletivas de outros departamentos aos alunos, mas também integrar as disciplinas na grade curricular comum para promover uma prática constante. De acordo com o Jasmin, a forte relação com o Departamento de Educação, por exemplo, permite um aprendizado teórico acerca dos métodos pedagógicos e como aplicá-los em sala de aula.
A professora Maria Elisa de Sá lembra que a graduação em história é uma das mais antigas do Rio de Janeiro, mas que há uma permanente procura pela atualização do currículo tanto para debater quanto conscientizar os alunos sobre questões atuais. No segundo semestre de 2015, por exemplo, as disciplinas África 1 e África 2 começaram a ser obrigatórias na grade acadêmica. Maria Elisa afirma que o tema era uma lacuna nos cursos, e a inserção no programa demonstra a importância do estudo destes temas para um entendimento profundo sobre a formação do continente.
Jasmin salienta ainda a existência de Seminários Especiais na grade curricular. De acordo com ele, o termo se refere a disciplinas obrigatórias que os alunos precisam realizar para completar a graduação. O diretor explica que é uma maneira de complementar a área de interesse que os estudantes pretendem trabalhar e oferecer um conhecimento além das matérias básicas.
– Os alunos podem escolher, ao longo dos últimos dois anos, quais seminários eles preferem fazer entre os vários ofertados, de acordo com a sua vocação. Aquele que deseja trabalhar com o ensino em história segue um certo caminho, enquanto o que prefere história contemporânea vai por outro caminho.
A Semana de História é também uma das principais marcas do curso, que visa estimular a autonomia dos alunos e inseri-los no mercado acadêmico. Segundo Maria Elisa, os estudantes estruturam o projeto, pois é uma maneira de aprender a organizar palestras e convidar outros profissionais para debater nos encontros. A professora comenta que os professores do departamento podem auxiliar na logística ou com questões financeiras.
Professora emérita do departamento, Margarida de Souza Neves assinala que o corpo docente é composto por profissionais de diferentes formações, sejam escolares ou acadêmicas. Ela diz que não existe uma separação entre alunos da graduação e pós-graduação, mas um incentivo na participação de projetos de pesquisa.
– Eu acredito que uma outra marca do nosso departamento é a atenção especial ao que a gente convenciona chamar de História Social da Cultura. É a área de concentração da pós-graduação, mas está também na graduação, sendo os mesmos professores e as mesmas pesquisas. Os alunos de graduação podem cursar disciplinas de pós-graduação nos últimos dois períodos, e os estudantes de pós-graduação podem estagiar em cursos de história e em cursos de graduação.
Inovação
Margarida destaca que o departamento inovou há 15 anos, quando um convênio com o Ministério da Educação (MEC) foi estabelecido para formar os chamados professores leigos do interior do Brasil. De acordo com a historiadora, o nome é referente a profissionais que não têm habilitação para lecionar, mas que ensinam outras pessoas a ler e escrever. Com a criação do projeto em 2005, a História da PUC-Rio foi a primeira a oferecer graduação a distância.
– Nós formamos centenas de professores dos lugares mais remotos deste país, que passaram a ter um diploma de graduação em história igual ao meu. Depois, conseguimos que alguns dos alunos, os que podiam, fossem para a formatura na Universidade. Foi muito legal, pessoas que nunca saíram das pequenas vilas e que participaram da cerimônia. Acho que a iniciativa não deve ser esquecida, a felicidade deles na formatura, eles ganhando o diploma e podendo se sentir donos da própria história.
Margarida de Souza Neves
Em 2015, houve a criação do mestrado profissional ProfHistória, com objetivo de formar professores para lecionar em colégios do ensino público. Maria Elisa salienta que o departamento foi pioneiro na criação de uma pós-graduação com linha de pesquisa em História Social da Cultura e História da Arte e Arquitetura. Como o curso incentiva a participação dos estudantes em projetos de pesquisa, cerca de 70% têm bolsa na graduação.
– A Capes introduziu duas novidades este ano, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, destinado a alunos do 1º ao 4º período, que visa à formação de docentes; e a Residência Pedagógica, que é parecida com este outro, mas é oferecida a alunos do 5º ao 8º período. Também temos o programa de pesquisa PET e uma longa participação da graduação com o programa PIBIC.
Projetos
Integrar os mecanismos digitais e construir uma nova plataforma virtual para o ensino a distância são alguns dos planos para 2021, revela o diretor do departamento. De acordo com Jasmin, o objetivo é proporcionar uma experiência mais organizada e sistematizada aos alunos por meio de programas preexistentes, como a página do Facebook. Ele completa que o projeto é em parceria com outros departamentos e pretende aproveitar as inovações nas aulas presenciais.
– A interdisciplinaridade já faz parte do nosso departamento, de estarmos juntos. Estamos com uma atividade em andamento, com a Agência.Com, do Comunicar, que está ajudando com a identidade visual e, depois, vamos integrar os mecanismos com os laboratórios de mídias digitais. Nós estamos discutindo a incorporação das plataformas e outros instrumentos digitais na nossa prática de ensino presencial.
Em parceria com a Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos (VRA), o Departamento de História criou o Núcleo de Memória da PUC-Rio. O projeto surgiu em 2006, com objetivo de preservar a narrativa dos cursos de pós-graduação da Universidade que foram pioneiros no Brasil. A professora Margarida foi a responsável por consolidar o programa e relembra que a equipe começou a arquivar informações da pós-graduação para conservar o trabalho da Universidade.
– A memória garante toda a importância da Universidade. Vimos que não tinha o menor sentido fazer a memória da pós-graduação sem mexer com a graduação, com as outras atividades, porque, na PUC, as coisas são muito organicamente unidas. Sabemos que é um trabalho meio de Sísifo, porque nosso trabalho não acaba muito. A PUC tem muita bagagem de memória, sempre teve muitos projetos interessantes, se caracterizou por ser pioneira em muitos cantos.
Maria Elisa aponta que o departamento desenvolve pesquisas na área da história da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com ela, um dos primeiros e mais importantes financiamentos que a História recebeu foi para realizar um arquivo sobre as polícias do Rio. Ela revela que, atualmente, os profissionais estão envolvidos com o projeto Rio Memórias, um museu virtual que conta a história da cidade.
Para Margarida, tanto o trabalho intelectual quanto o convívio rico entre docentes e discentes provam que há uma construção comum de um saber histórico consistente. Mas, acrescenta, professores e funcionários são responsáveis pelo o que o departamento foi, é e será nos diferentes momentos de existência.
– O que se faz e o que se fez, e o que se fará no Departamento de História é denso de sentido. Quando eu olho para minha trajetória de 50 anos lá, é uma experiência que vale a pena, porque tem conteúdo. É densa de conteúdo humano, de indagação, de dúvidas, de conteúdo intelectual. Enfim, uma vivência densa.