Departamento de Engenharia Química e de Materiais se caracteriza por ser uma unidade que prioriza a união interna com o objetivo de buscar excelência acadêmica. Nos anos 1970, foi desenvolvido um projeto com tecnologia alternativa para obtenção do aço que foi adquirida pela Vale e utilizada em vários países

Criado em 2015, o Departamento de Engenharia Química e de Materiais (DEQM) se destaca pela qualidade do ensino aliada a importantes interações com indústrias e centros de pesquisa. A história do DEQM na Universidade, no entanto, vai muito além dos cinco anos da sua fundação: começa em 1968, com a formação do Departamento de Ciência dos Materiais e Metalurgia, conhecido como DCMM.

Segundo o diretor do DEQM, professor Eduardo Brocchi, o DCMM surgiu pela demanda de engenheiros metalúrgicos durante a década de 1960, quando diversas siderúrgicas foram instaladas no Brasil no período da ditadura militar. Na ocasião, o Departamento de Ciência dos Materiais (DCM) se uniu ao Departamento de Metalurgia (DMT), e, juntos, formaram o DCMM. Brocchi conta que, no início, a principal área do DCMM era a metalurgia extrativa.

– Eram dois departamentos pequenos que se juntaram e formaram, em 1968, o DCMM, que vingou por cerca de 40 anos até ser criado o DEMa, anterior ao DEQM. A área de materiais começou a crescer depois. Logo em 1971, veio o mestrado, que dava possibilidade de grandes estudos e foi criado com uma vocação muito nítida para a metalurgia extrativa. Contratamos um professor pioneiro em tratamento de minérios, Roberto Borges Trajano, de muito prestígio. Tínhamos o professor João Cristóvão Cardoso, ex-presidente do CNPq. Eram os dois destaques da época, eles trouxeram projetos de pesquisa com um direcionamento aplicado.

Descrito pelo diretor como “querido por todos”, o professor Trajano morreu ainda no processo inicial do DCMM. Em homenagem, a casa XXI da Vila dos Diretórios ganhou o nome que permanece nos dias atuais: Laboratório de Tecnologia Mineral professor Roberto Borges Trajano. Brocchi, que chegou à Universidade no início dos anos 1970, revela que as primeiras lembranças do DCMM são as de um departamento em construção e com um espaço físico pequeno.

– Tinha uma salinha única onde se acomodavam a secretária e a assessora, e a sala da direção, em anexo. O DCMM foi criado na mesma época em que os padres saíram do quinto andar do Edifício Cardeal Leme para o prédio dos padres, onde, hoje, fica a Fundação Padre Leonel Franca. Cada andar tinha seis quartos, acomodação individual. Até hoje, no Cardeal Leme, existe uma marca na parede que delimitava o espaço dos padres. A partir dali, na época, você não podia entrar. Parte desta área foi para o DCMM, que ganhou não só um novo nome, mas novos espaços. O que era a cozinha dos padres é laboratório até hoje.

Brocchi lembra que o quadro docente era mínimo, formado por alguns professores que ainda faziam mestrado e explica, ainda, como o quadro docente do DCMM foi estruturado. O professor João Battista Bruno assumiu o departamento em meados dos anos 1970 no lugar do professor Celso de Araújo e, inspirado pelo professor Fernando Rizzo, que fez o doutorado na Flórida, nos Estados Unidos, criou um programa para estruturar o quadro docente. A ideia foi investir em alunos de mestrado que possuíam mais vocação para a vida acadêmica.

– Bruno pinçou alguns alunos e falou: contrato vocês para serem professores, desde que dentro de seis meses façam doutorado no exterior. Estou nesta leva. No programa, somente dois professores poderiam ir para o mesmo país. Houve uma iniciativa clara de formação de quadro docente que permitiu que, em médio prazo, o DCMM tivesse vários professores doutores para se juntarem ao departamento.

O doutorado do DCMM surgiu em 1991 na gestão de José Carlos D’Abreu, um importante professor na história do departamento. Ainda nos anos 1970, D’Abreu coordenou um projeto chamado autorredução, um processo alternativo para obtenção de aço. Hoje, a tecnologia é conhecida como Tecnored e, de acordo com Brocchi, foi adquirida pela Vale e utilizada por alguns países.

– Foi toda desenvolvida no DCMM. Tem uma indústria em Pindamonhangaba que usa este processo, e a Vale pretende instalar uma segunda com a mesma tecnologia no Pará. Você tem esta vertente muito marcante no começo, um começo muito calcado nestes projetos.

A criação do DEQM

O DCMM funcionou até o início dos anos 2000, quando foi criado o Departamento de Engenharia de Materiais (DEMa), que era mais abrangente e abrigava a Engenharia Metalúrgica. Mas foi em 2015 que o departamento deu um salto. Incorporou o curso de Engenharia Química, antes dividido com o Departamento de Química, e formou o atual Departamento de Engenharia Química e de Materiais (DEQM).

– O DCMM já fazia alguma coisa parecida com Engenharia Química, o casamento era melhor do que com a Química. O departamento passou a ter um outro perfil, os últimos professores contratados foram todos para engenharia química. Em 2015, fomos o primeiro departamento da PUC a abrigar dois cursos de graduação: Engenharia de Materiais e Nanotecnologia e Engenharia Química. A criação do departamento foi marcante por juntar estas competências. A ideia é ganhar cada vez mais notoriedade nacional, assim como o segmento de materiais e metalurgia obteve.

Brocchi destaca o valor que é conferido à pesquisa, e o fato de todos os professores de tempo integral possuírem vínculos com indústrias, centros de pesquisa e empresas de consultoria. O diretor também ressalta as três principais áreas de concentração de projetos do DEQM: Engenharia Química, Materiais e Nanotecnologia e Processos Ambientais.

Dentro da Engenharia Química, existem as linhas de pesquisas associadas com petróleo, voltadas para reações e sínteses de interesse do setor, os processos minerometalúrgicos, a modelagem e otimização de processos. Em Materiais e Nanotecnologia, há a engenharia microestrutural, a integridade estrutural, que trabalha no segmento mais orientado para o desempenho de materiais, e a nanotecnologia. Na terceira área de concentração, estão os processos ambientais, direcionados par o aproveitamento e tratamento de resíduos, e ao tratamento de águas e efluentes.

– Somos pioneiros no Brasil no que tange à junção entre as áreas de Materiais e Engenharia Química. É um casamento perfeito, são interesses parecidos. Nossa Pós-Graduação tem o nome Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, de Materiais e Processos Ambientais.

Eduardo Brocchi

Atualmente, o departamento tem 19 professores que atuam na pós-graduação e sete que lecionam apenas na graduação. Eduardo Brocchi, que já foi diretor em três ocasiões e conhece como poucos a história do departamento, conta que o DEQM está em renovação de quadro docente, com esperança de que os novos professores deem continuidade a todo o processo que começou há 52 anos.

– Os professores contratados são novos, com menos de 40 anos. Estão canalizados para atuar em ensino e pesquisa em tópicos ligados às nossas áreas de atuação. Como o Bruno fez a política de trazer professores formados no exterior, há 40 anos, é o que esperamos que eles façam nos próximos. Devem fortalecer a área da Engenharia Química. Apesar das naturais divergências, aqui ou ali, o DEQM se caracteriza por manter vivo o espírito PUC-Rio, e é uma unidade que sempre procurou priorizar a união interna na busca das melhores condições de trabalho e da excelência acadêmica, ou seja, do ensino e da pesquisa.