Classificado como o segundo melhor do Brasil, Artes & Design tem quase cinco décadas de história. Com 14 laboratórios de pós-graduação e seis de graduação, o departamento preza a reflexão por meio da ação

O Departamento de Artes & Design (DAD) foi construído com base no marco e na missão da Universidade, e tem como princípios a interdisciplinaridade, a inclusão e a busca pelo bem viver e a atenção com o que está além dos muros da PUC-Rio. O curso é classificado como o segundo melhor do Brasil e está entre os 150 melhores do mundo, de acordo com o ranking QS World University, do Reino Unido.

O DAD foi criado em 1978, quando o curso de Artes deixou de ser uma coordenação do Departamento de Letras para se tornar uma unidade acadêmica. No início, existia a licenciatura, que já era oferecida havia cinco anos, e os cursos de desenho industrial e comunicação visual. A diretora do departamento, Jackeline Lima Farbiarz, assinala que o fato de Artes & Design ter nascido do Departamento de Letras moldou uma natureza humanista, o que é uma característica marcante no trabalho desenvolvido tanto na graduação quanto na pós-graduação.

Fachada do prédio do DAD, inaugurado em 2016, na entrada da Vila dos Diretórios | Foto: Gabriel Molon

– Uma coisa interessante é que geralmente os departamentos de Design são muitas vezes associados a Centros Tecnológicos e, por isso, seria razoável ele estar ligado ao Centro Técnico Científico (CTC), mas como ele veio do Departamento de Letras, com base no Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), Artes & Design da PUC-Rio tem uma base humanista – diz a diretora.

Para Jackeline, não existe design que não seja voltado para o outro porque ele é, em si, uma ponte. Por isto, a interdisciplinaridade é um elemento essencial para o departamento. A professora lembra que profissionais de diversas áreas, como medicina e engenharia, precisam do design para facilitar os desafios do dia a dia. Ela ainda acrescenta que ser interdisciplinar significa aprender a respeitar a diversidade de vozes, o que se reflete na busca pela inclusão. 

– A meta do departamento é ser cada vez mais interdisciplinar e essencialmente inclusivo. O departamento, antes de tudo, busca estar atento a esses movimentos, incorporá-los para refletir e poder ressignificá-los. O movimento se dá na soma de pessoas e ações.

Jackeline Lima Farbiarz

Sobre a relação com o mundo fora da PUC-Rio, Jackeline ressalta que o DAD sempre esteve, desde a fundação, voltado para a reflexão junto à sociedade e oferece, desde o primeiro planejamento pedagógico, a disciplina de projeto, que consiste no desenvolvimento de trabalhos de alunos, elaborados para resolver uma questão específica de alguma instituição fora da Universidade.  Ela lembra de parcerias com a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR),  o Instituto Helena Antipoff, o Médico sem Fronteiras e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). E ainda destaca a criação de um plano pedagógico para a educação de primeira infância em São Tomé e Príncipe com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

– A nossa equipe foi até lá, os professores africanos vieram para a PUC-Rio, e desenvolvemos todo o projeto pedagógico deles com base no design, desde as instalações em sala de aula, até as práticas de ensino e os materiais didáticos.

A diretora do departamento, Jackeline Lima Farbiarz | Foto: Acervo pessoal

Este projeto, segundo a professora, também é um exemplo de um design que pensa o bem viver. Ela observa que os alunos do departamento não são formados para desenvolver pesquisas e propostas que ajudem o próximo a sobreviver, mas para ter qualidade de vida, que vai além das necessidades básicas. Jackeline lembra de uma iniciativa no final da década de 1970 e início da década de 1980 em que os professores realizavam workshops e projetos para alunos ou pessoas de fora.

– As pessoas vêm aqui e ensinam que o que achamos que elas necessitam não necessariamente é o que elas querem. Houve uma situação de uma moça, por exemplo, que não tinha uma das pernas e queria poder ir às festas e usar calça jeans com sapato alto, porque ela via todas as outras meninas vestidas assim. A primeira ideia dos alunos foi desenvolver uma cadeira de rodas, mas o que menina queria era uma prótese para ficar igual às outras jovens. Isto é o que eu entendo como viver bem – afirma.

A diretora de Artes & Design também aponta que outro conceito que o departamento traz do marco da Universidade é o aproveitamento do campus como um espaço de contemplação, já que o espaço permite a busca pela integridade por meio do contato com a natureza. Ela ressalta que o DAD tem sempre em mente a função da arte de ressignificar constantemente o indivíduo e de estar em contato com a humanidade.

– Por isso, o departamento tem uma força muito grande na pós-graduação relacionada a questões de sustentabilidade, nesse contato com a regeneração, com a significação de ser e de seres. É um design que atende à indústria e ao mercado, mas que não perde a função de entender que aquilo que se coloca no mundo, sejam objetos, processos, sistemas, serviços, significa algo e gera respostas que modificam este mundo – reflete a diretora.

Um elemento fundamental para a prática do Design na Universidade são os laboratórios, que a professora define como o centro de expressão do curso. Ao todo, são 14 laboratórios de pós-graduação e seis de graduação: o Laboratório de Interfaces Físicas Experimentais (LIFE), o Laboratório de Experimentos Gráficos (PRELO), o Laboratório de Animação e Ilustração (LAI), o Laboratório de Computação Gráfica, o Laboratório de Volume e Prototipagem, o Laboratório de Fotografia e Estúdio e o Laboratório de Volume Têxtil.

– A base do design se dá a partir de uma prática. Ele é uma reflexão na ação e tem uma natureza interdisciplinar e uma vocação tecnológica. Um profissional de design desenvolve e projeta, precisa estar em contato com materiais e processos, sistemas, e estar também em situação de laboratório.

Pós-Graduação, Escritório Modelo e Moda

O programa de Pós-Graduação em Design foi pioneiro no Brasil com a implementação do mestrado em 1994 e, dois anos depois, a primeira dissertação foi defendida por uma professora do departamento, Heliana Pacheco. E o DAD pode se orgulhar de ter na sua história a primeira tese de doutorado de Design da América Latina, orientada pela professora Anamaria de Moraes (1942-2012) e defendida em 2006, três anos depois da criação do curso.

Defesa da primeira dissertação de mestrado pelo curso de Artes & Design da PUC-Rio em 1996. O trabalho foi apresentada pela então professora do departamento Heliana Pacheco | Foto: Acervo Comunicar

Sobre trabalhos realizados hoje na pós-graduação, a professora destaca o projeto de resgate do acervo do Museu Nacional, uma atividade do Núcleo de Experimentação Tridimensional (NEXT) e do Laboratório Experiências e Ambientes Interativos (EAI), em que peças do museu foram reproduzidas em tamanho real. Entre elas, o crânio e o rosto de Luzia, o fóssil humano mais antigo da América do Sul.

– As cinzas do museu vieram para o laboratório e ali recriamos as múmias, os objetos, tudo. O museu se foi, mas as cinzas ficaram. Como se faz para preservar uma história?

Recentemente, durante o período da pandemia, o departamento começou a desenvolver mais um projeto interdisciplinar. O NEXT, a empresa Maré Relógios, o Centro de Estudos em Telecomunicações (CETUC) e o Núcleo de Estudos e Ação sobre o Menor (NEAM) passaram a produzir um kit de equipamentos de proteção individual (EPI) inteligente e de baixo custo para agentes comunitários de saúde que atuam na Rocinha – comunidade perto do campus da PUC-Rio. A expectativa é que 30 mil pessoas sejam beneficiadas indiretamente com a iniciativa. 

Outro braço do departamento é o Escritório Modelo, direcionado para os alunos de graduação. Cada habilitação – Comunicação Visual, Design de Moda, Mídia Digital e Projeto de Produto – tem um professor que orienta os estudantes para  desenvolvimento de projetos intra e extra-muros. Também com a supervisão de professores, o Núcleo de Arte Digital e Animação (N.A.D.A) é mais um espaço onde os alunos podem aliar teoria, técnica e prática. O N.A.D.A já produziu trabalhos de animação para o Museu Villa-Lobos, Museu Nacional UFRJ e a Fundação Planetário do Rio de Janeiro, entre outros. 

A Semana de Design da PUC-Rio, que já contabiliza 14 edições, é uma atividade em que o design pensado pelos alunos pode ser colocado em ação. Jackeline diz que a iniciativa permite que o departamento se reavalie sempre, porque dá aos professores a oportunidade de identificar quais projetos os alunos consideram relevantes, além de permitir que os estudantes mostrem o trabalho para pessoas de fora da Universidade, uma vez que a Semana é uma vitrine. A diretora do departamento comenta que todas estas ações têm o objetivo de transformar os jovens em profissionais que não só atendam às demandas do mercado, mas que também reflitam sobre ele constantemente e antecipem possibilidades que podem ser benéficas para a sociedade.

– São os alunos que formulam e enviam os seus projetos. Eles se inscrevem, e temos a oportunidade de ver o que eles entendem como representativo da formação. Isto é muito bom, porque não podemos ter a expectativa de construir tal coisa e ver que os alunos valorizam outra. Além disso, a Semana de Design é um espaço de grande visibilidade, pois alguns projetos saem daqui com convites para serem reaproveitados e ter continuidade fora.

Inclusão

Dentro do DAD, há uma ação que Jackeline define como o “xodó” do departamento: o projeto de extensão AEIOU, que proporciona uma experiência universitária a pessoas com diversidade intelectual. Coordenado pelas professoras Ana Branco e Maria Cláudia Bolshaw, ele é pensado semestre por semestre, e foca nas atividades que os alunos demonstram habilidade e interesse, mas sempre conta com as aulas de Biochip, um reencontro com a alimentação, e com a exploração de múltiplos modos comunicacionais.

Projeto Convivência com BioChip, no bosque da PUC-Rio, liderado pela professora Ana Branco, do Departamento Artes & Design | Foto: Acervo do Núcleo de Memória da PUC-Rio

– Alguns precisam de barulho para aprender, alguns precisam de silêncio, alguns precisam estar andando para aprender, outros precisam estar parados, cada um é diferente. Temos um local em que essas pessoas, que não entram na Universidade de maneira formal, podem vivenciar esse espaço. E vivenciam como? Depende, porque são eles que apresentam as habilidades e os desejos.

Estrutura de bambu do Anfiteatro Professor Junito Brandão na PUC-Rio | Foto: Juan Dias/ Acervo Bambutec

Para Jackeline, são as pessoas que formam a alma do Departamento de Artes & Design, como o professor emérito José Luiz Mendes Ripper, que traz o design social para a Universidade e tem um trabalho com materiais alternativos, como o bambu, reconhecido mundialmente. Para a diretora, todos são exemplos da forma de pensar o design junto da sociedade e em prol do bem viver. Cada um, aponta, busca caminhos diferentes para realizar este pensamento ao lado dos alunos.