Com quase sete décadas de existência, Departamento de Comunicação mostra versatilidade ao criar curso de Estudo de Mídias e ao implantar uma nova grade curricular para o Jornalismo. Na última avaliação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o curso recebeu a nota máxima, 5

Estar antenado com as questões do mundo fez com que o Departamento de Comunicação da PUC-Rio estivesse sempre em uma posição de vanguarda e se tornasse uma das marcas da Universidade. Prestes a completar 70 anos, o departamento inova mais uma vez: começa o ano de 2021 com um novo curso, Estudos de Mídia, e o Jornalismo não mais será uma habilitação e se tornará uma graduação, como na sua origem, em 1951, quando fazia parte da Faculdade de Filosofia.

A PUC-Rio foi a terceira instituição do Brasil a implementar a graduação de Jornalismo, a primeira, a Faculdade Cásper Líbero, criou o curso em 1947, e a segunda, a UFRJ, em 1948. A convite do então Reitor, padre Artur Alonso Frias, S.J., o professor Walter Poyares (1916-2005) foi convidado para ser o primeiro diretor do Jornalismo quando foi realizada a transferência para o campus Gávea – anteriormente, as instalações eram no Colégio Santo Inácio, em Botafogo.

Em 1966, houve o lançamento do Jornal-Escola, uma parceria do curso com o Jornal do Brasil. Também na década de 60, professores do Jornalismo organizaram um curso de especialização de Relações Públicas, uma inovação na época. A primeira formatura de jornalismo em separado da Faculdade de Filosofia foi em 1968, com Dom Helder Camara como patrono e o jornalista Alberto Dines como paraninfo.

Neste mesmo ano, com a reforma curricular, o jornalismo passou a integrar o Departamento de Comunicação Social. Dez anos depois, uma nova reforma curricular na Comunicação criou as habilitações de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. A ideia era que os alunos se formassem como comunicadores plenos, pessoas que dominassem partes das duas áreas. Em 2005, a Comunicação Social passou a oferecer também a habilitação em Cinema. O Programa de Pós-Graduação começou em 2003 com o Mestrado e, oito anos depois, o Doutorado foi aprovado pela Capes.

Agora, mais uma vez, o departamento se reinventa de olho nas transformações ocorridas no campo da comunicação, muitas vezes impulsionadas pela tecnologia. Diretora do departamento, a professora Tatiana Siciliano assinala que não se pode falar na troca de opiniões e informações sem levar em conta o contexto das diferentes mídias e nos seus respectivos processos de mediação. Por isso, observa, o modelo curricular anterior, baseado em uma lógica especialista, vai dar espaço a uma dinâmica de grade mais flexível e permeável. Assim, o aluno pode desenvolver autonomia na construção de seu percurso na Universidade.

– Comunicação deriva da palavra em latim Communicare, que significa por em comum, partilhar, trocar opiniões, interagir, trocar mensagens. Com sua crescente convergência e conexão, a expansão das mídias vem transformando os modos de ver, de conhecer, de sentir, assim como as formas de consumo – de conteúdos, narrativas e imagens. Daí ter sido fundamental termos no portfólio do Departamento de Comunicação um curso como o de Estudos de Mídia, que se propõe a oferecer uma formação mais ampla, híbrida e integrada, voltada à compreensão da mídia como um ecossistema – explica.

Tatiana Siciliano
Atual diretora do Departamento de Comunicação Social, a professora Tatiana Siciliano ressalta a criação do curso de Estudos de Mídia, alinhado às transformações ocorridas no mercado profissional | Foto: Fernanda Maia

Por outro lado, o curso de jornalismo, que recebeu a nota máxima 5 no último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), está entre os 21 melhores do país. Uma marca da tradição de ensino da Universidade, o curso deixa de ser uma habilitação e vai adotar uma nova grade curricular que contempla o surgimento de novas mídias. Tatiana ressalta que o jornalismo tem uma especificidade teórica, determinada, inclusive, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, voltadas para as graduações em jornalismo no país.

– Tais diretrizes reforçam a importância do fortalecimento do Jornalismo como uma atividade que tem como proposta defender o direito à informação como um princípio democrático e promotor de cidadania, cujo profissional deve ser dotado de habilidades especificas fundamentais à prática da produção de informações jornalísticas de qualidade direcionadas ao interesse público e com responsabilidade ética.

Comunicador com visão humana e crítica

A diretora do departamento destaca que, mais do que formar um profissional capaz de lidar tecnicamente com as demandas do mercado de trabalho, a graduação fornece uma sólida base acadêmica para o desenvolvimento de uma autonomia de pensamento. E mais: incentiva o crescimento de pessoas com uma visão humana e crítica, capazes de perceber a importância e o papel do comunicador como formador de opinião.

O equilíbrio entre capacitação técnica e conhecimento denso faz com que o corpo docente do departamento forneça a expertise em uma série de atividades e projetos. Assim, logo nos primeiros anos, em 1958, a PUC-Rio realizou, em parceria com o Departamento de Imprensa da Conferência dos Religiosos do Brasil, um curso intensivo de jornalismo com a participação de 60 religiosos. Em 1962, foi criado um laboratório experimental do curso de jornalismo e opinião pública para aplicação prática dos conceitos teóricos ensinados durante as aulas.

Mais de vinte anos depois, em 1987, sob coordenação da Vice-Reitoria de Desenvolvimento, professores do departamento criaram o Projeto Comunicar, com o objetivo de desenvolver ações de comunicação institucional multimeios no campus e com o entorno da Universidade, realizadas por alunos orientados por professores da Comunicação. Uma experiência pedagógica inovadora, que posteriormente foi adotada por outras instituições de ensino superior do país. Desde a fundação até hoje, o Comunicar já treinou mais de dois mil estagiários, muitos, atualmente, profissionais com posições de destaque no mercado.

A evolução da tecnologia, que modificou a dinâmica de muitas profissões, inclusive o jornalismo e a publicidade, levou à criação do Portal PUC-Rio Digital em 2008, o primeiro laboratório universitário de convergência de mídia do país. Durante os dez anos de funcionamento, o Portal contabilizou mais de um milhão de visualizações.  Supervisionados por professores do departamento, os estagiários produziam o conteúdo e, graças a esta experiência, puderam se qualificar mais ainda para o mercado de trabalho.

São alguns exemplos de como, desde a sua fundação, a Comunicação da PUC-Rio procura estabelecer diálogos, seja com o público interno ou com o externo. A diretora do departamento diz que a implantação de Estudos de Mídia e a nova grade do Jornalismo, a integração entre a pós-graduação e a graduação, a interação e parceria com outros departamentos da Universidade são os caminhos que a Comunicação trilha de forma consistente para comemorar as suas sete décadas de existência.

– A nossa ideia é desenvolver um trabalho coletivo que preserve a tradição do departamento, legada pelas antigas gerações, de formar profissionais com sólida bagagem acadêmica e humanística com incentivo à experimentação de linguagens e formatos dentro do contexto das transformações do campo da comunicação e da introdução de novas tecnologias – finaliza.