Instituto GUETTO propõe pensar cenários futuros para a população negra no Brasil

Por: Ana Beatriz Aprigio, Camila Cunha Guanabara e Thiago Silva

Em um bate papo com os alunos de comunicação da PUC-Rio, o Instituto GUETTO apresentou o projeto “Cenários Futuros para a População Negra no Brasil”. O programa Cenários é uma iniciativa que elabora caminhos reais para um Brasil mais equitativo. Com a presença de ativistas, representantes de instituições parceiras, especialistas e lideranças, todos são chamados para pensar estrategicamente as oportunidades e desafios para a população negra no território brasileiro.

Palestra com alunos da PUC-Rio (Foto: Matheus Santos)

O presidente do Instituto, Vítor Del Rey; a coordenadora de Comunicação da instituição, Flora Fernandes; e a Gestora Administrativa e Financeira, Aimê Araújo participaram da palestra que motivou os alunos a pensarem num futuro mais democrático. Com o objetivo de criar cenários reais através da análise de desafios atuais e identificação de forças de mudança, o GUETTO foi criado em meio a pandemia. O instituto busca um impacto real com essa pesquisa que projeta o futuro até 2050. 

Gestora Administrativa e Financeira do Instituto GUETTO, Aimê Araújo (Foto: Matheus Santos)

– A gente não tá tentando adivinhar o que vai acontecer daqui a 15 anos (…) A gente não tá tentando adivinhar o que vai acontecer em 2050. Não é um exercício de adivinhação, é um exercício de traçar cenários. 

Tudo começou quando Vitor Del Rey ingressou como aluno bolsista na FGV em 2013. Ele conta que ao ver o sistema de indicação de estágios exclusivos para alunos da faculdade, refletiu sobre como as oportunidades chegam muitas vezes para quem está “no lugar certo”. Criado em Nova Iguaçu, Vitor pensou em seu ciclo social fora do campus da universidade, e percebeu a grande diferença entre as portas que eram abertas para ele e as portas que seus demais colegas, que não estudavam em faculdades de prestígio ou sequer estudavam, tinham a possibilidade de abrir. Foi aí que, em 30 de junho de 2016, através da rede social Facebook, Vitor Del Rey criou uma comunidade que viria mudar a vida de muitos jovens, a Ponte Para Pretxs, que posteriormente transformou-se em uma escola de mesmo nome.

GUETTO é um acrônimo que significa Gestão Urbana de Empreendedorismo, Trabalho e Tecnologia Organizada, e desde 2019, o Instituto vem liderando projetos e parcerias bem-sucedidas na iniciativa pública e no mercado corporativo, abrangendo áreas como pesquisas e palestras, no campo da educação básica a superior; programas de empreendedorismo, empregabilidade, consultorias e treinamentos corporativos. O foco do instituto é potencializar a vida de minorias como pessoas pretas, indígenas e de baixa renda, contribuindo na criação de uma sociedade justa que proporciona as ferramentas necessárias para a democratização do acesso às melhores oportunidades.

 – Criei o grupo, era um domingo, adicionei umas 120 pessoas, todas pretas. Aí essas pessoas entenderam que ali era para adicionar gente preta. Quando a gente foi ver tinha 30.000, 40.000, 50.000 pessoas postando vaga lá o tempo inteiro.

Presidente do Instituto GUETTO, Vitor Del Rey (Foto: Matheus Santos)

O projeto “Cenários Futuros para a População Negra no Brasil” ainda está em desenvolvimento, seus fundamentos são: entender o sistema de racismo estrutural no Brasil e as realidades atuais da população negra; construir cenários de maneira coletiva sobre o que pode acontecer com essa parcela da população; avaliar as consequências e ações necessárias para transformar o futuro; definir quais são os cenários desejáveis e criar estratégias concretas para torná-los realidade; engajar a sociedade para entrar nesse debate e mobilizar indivíduos nessa construção, e por fim, desenvolver redes de colaboração para a transformação social.

– A importância do projeto cenários para a população negra do Brasil é justamente a gente conseguir fazer com que a população consiga pensar num futuro possível. 

Com o aprofundamento do entendimento das causas de desigualdades, o projeto auxilia a identificar o que precisa ser realizado para transformar efetivamente os próximos anos.  O propósito é criar um guia estratégico para decisões empresariais, para políticas públicas e planejamento governamental, contribuindo assim para a construção de um futuro mais equitativo. Assim, toda a sociedade estará também com o papel de tornar o Brasil um país mais justo.

– A organização tem uma teoria de mudança, o cenário pode ajudar, serve para validar estratégias de diversidade, de atuação em campo e serve para políticas públicas. Então o tomador de decisão, ele pode consultar os cenários e tentar entender se está indo na direção certa e serve para evitar o futuro que a gente não quer chegar. Porque os cenários, eles também funcionam como uma luz.

Coordenadora de Comunicação da instituição, Flora Fernandes (Foto: Matheus Santos)

Flora Fernandes, terminou o bate-papo lembrando a necessidade de distribuição deste guia e reafirmou a fala de Vitor Del Rey, sobre o curto tempo para diminuir as desigualdades.

– O nosso papel é deixar cada vez mais acessível essa possibilidade, esses cenários futuros, tentar pensar em como é que a gente pode reduzir um pouco essas desigualdades. A gente não tem tempo hábil para isso, mas isso não faz com que a gente desista, muito pelo contrário, faz com que a gente queira correr muito mais atrás disso.