Coordenador adjunto do curso de Mestrado Profissional em Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio, Cristiano Saad analisa medidas essenciais para diminuir a pegada de carbono do Rio de Janeiro e ampliar a malha de transporte carioca
Por: Felipe Scofield
A implementação de uma malha de transportes elétricos coletivos no Rio é fundamental para a redução de poluentes e dos congestionamentos urbanos. A afirmativa é do especialista na área de sistemas de transporte, coordenador adjunto do curso de Mestrado Profissional em Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio, Cristiano Saad, que defende também a diversificação dos modais, incluindo, por exemplo, a criação de malhas aquaviárias na cidade.
Reduzir o número de carros que circulam diariamente pode proporcionar não só uma melhora no trânsito, mas também a melhora na qualidade do ar e a redução do estresse diário dos trabalhadores. De acordo com o Data Rio, o transporte rodoviário foi responsável por 18% das emissões de gases agravantes do efeito estufa em 2021.
Nessa direção, o governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou em março a possibilidade de redução das tarifas do metrô e do trem para R$4,70, com a expectativa de um aumento de aproximadamente 500 mil passageiros diários. Além da melhora na vida financeira dos cariocas, os impactos ambientais são um dos principais benefícios almejados com o aumento dos usuários de transporte público.
Em entrevista ao Jornal da PUC, Saad reforça a importância da medida junto a eletrificação de veículos e avalia as consequências da otimização da malha de transporte do Rio de Janeiro para o meio ambiente.
Como os veículos a combustão causam danos para o meio ambiente?
Os impactos ambientais devem sempre ser considerados em todo o ciclo de vida do objeto, desde a matéria prima até o descarte do veículo. Durante os processos de fabricação e durante o uso, os veículos a combustão causam impactos negativos para o meio ambiente devido às emissões de poluentes que aceleram os processos de aquecimento da superfície terrestre. Além disso, alguns gases, como o monóxido de carbono, em alta exposição podem impactar diretamente no organismo humano, causando doenças respiratórias.
A proposta da prefeitura é ampliar o número de usuários do metrô em 500 mil por dia. Como isso pode melhorar a qualidade de vida a longo prazo e reduzir a emissão de gases poluentes?
O projeto audacioso da prefeitura, que busca converter usuários de carros/ônibus em usuários do sistema metroviário, pode melhorar vários quesitos socioeconômicos para a população afetada. Por exemplo, o tempo de trajeto entre casa e trabalho, quando reduzido, melhora o bem-estar pessoal e familiar. As consequências desta redução do trânsito amenizam o estresse da população, o número de acidentes e os custos de saúde associados à poluição. Em relação aos gases poluentes, é inquestionável que haverá redução a longo prazo com a maior adoção do sistema metroviário, apesar de não neutralizar as emissões.
O estímulo ao uso de transporte público é a melhor solução para reduzir a poluição e otimizar o transporte?
O sistema de transporte é dinâmico e complexo. Caso toda a população utilizasse somente o nosso transporte público, possivelmente ele não suportaria a quantidade de pessoas. Existem meios de transporte que possuem também baixa emissão de poluentes, como é o caso dos veículos elétricos, mas que são inacessíveis para a maioria da população. A melhor solução é aquela que combina as opções mais indicadas de modais de acordo com o seu contexto/realidade. Caso você possa ir até o trabalho de bicicleta, opte por ciclovias, mas se não tiver ciclovias seguras nem estações de metrô, escolha o transporte rodoviário.
Como reduzir a emissão de carbono no Rio?
O aumento da malha cicloviária é um passo importante para grandes centros urbanos diminuírem as emissões de gases poluentes. Também podemos citar a diversificação da malha de transportes, o aumento das linhas do metrô, a criação de malhas aquaviárias para aliviar as vias expressas, entre outros modais que ampliam o leque de alternativas para o usuário comum. O Rio pode, inclusive, utilizar exemplos próprios de sucesso, como é o caso do VLT no Centro. Sua replicação ou expansão para outros bairros pode contribuir ainda mais para a redução de emissão de poluentes.
Por que a implementação de transportes elétricos é relevante para a cidade?
É importante notar que os veículos elétricos individuais, apesar de diminuírem a emissão de poluentes, mantêm os congestionamentos nos centros urbanos. Portanto, é essencial implementar uma malha de transportes elétricos coletivos para que, além das reduções de poluentes, haja também redução de congestionamentos. Vale ressaltar que um veículo elétrico pode ter uma alta pegada de carbono associada à fabricação de suas baterias e das fontes de energia usadas para recarregá-lo, sem falar no descarte pós-uso das baterias.
A vantagem do Brasil, e consequentemente do Rio, é que temos uma matriz majoritariamente elétrica e limpa com ampla utilização de fontes renováveis que podem diminuir as emissões ao longo do ciclo de vida.
Que outras ações a prefeitura poderia tomar para melhorar o transporte e reduzir a pegada de carbono da cidade?
A eletrificação da malha de transportes é um passo fundamental, principalmente nos ônibus municipais. A criação de ciclovias e o estímulo para utilização de meios metroviários, como trem, metrô e VLT, devem também ser ações municipais para melhorar o cenário de transporte e reduzir a pegada de carbono. A prefeitura deve investir em projetos que ampliam as alternativas de modais em vez de restringir as opções de trajeto (rodízio de placas, por exemplo). É evidente que as tarifas de transportes devem ser subsidiadas para que sejam acessíveis à maior parte da população. O modal mais econômico sempre será escolhido mesmo que não seja o menor tempo de trajeto, emissões etc. Para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, uma tarifa de ônibus que custa a metade da tarifa do metrô faz a diferença na hora de escolher o transporte.