Por: Jackson Lima

Um dos maiores ficcionistas brasileiros, ganhador do prêmio Jabuti e do Camões, com uma vasta obra de contos e histórias que denunciam situações sociais nas quais a violência no meio urbano é uma das maiores protagonistas, o escritor Rubem Fonseca, foi homenageado pelo Departamento de Letras da PUC-Rio por ocasião de seu centenário de nascimento. Para o professor, pesquisador e escritor Karl Erik Schøllhammer, Rubem tem um estilo de escrita próprio,  fundado por ele, com uma maneira experimental de escrever em contato com todo o meio social, o que pode ser constatado em livros como Lúcia McCartney e Agosto. O simpósio de Letras, organizado por Karl e pela professora e escritora Vera Follain de Figueiredo, debateu o impacto de sua obra com o relançamento do livro “Os crimes do texto: Rubem Fonseca e a ficção contemporânea”, de Vera.

Rubem, falecido em 2020, teve sua última obra em vida mal recebida por crítica e público. Para Vera Follain, as críticas à Carne Crua partiam de uma premissa equivocada:

“Houve algumas críticas negativas em relação às últimas obras do Rubem, como se ele estivesse se repetindo, tivesse perdido o vigor. E eu acho que esse meu livro no posfácio tenta mostrar que isso é uma leitura equivocada, que ele continua sendo um grande escritor, mesmo na fase final da vida”.

Vera Follain de Figueiredo, comenta sobre a recepção da obra. Fotos: JP Araújo.

As obras de Rubem foram amplamente adaptadas para diferentes mídias, como séries e  filmes, o carácter social e vigilante da sua escrita foi um dos fatores da repercussão da sua obra no meio acadêmico e literário. Essa é uma das teses apresentadas por Vera em seu livro, a autora destaca como a obra de Rubem tem um carácter que vai além do meio literário, com conexão com o cinema e a produção televisiva, de acordo com Karl Erik, uma característica transmídia. 

“Rubem faz um experimento com diferentes formatos e diferentes gêneros, sempre estabelecendo uma relação com a nossa sociedade, principalmente com as tecnologias de comunicação, como o cinema, como a televisão. Nas últimas décadas de vida dele fez experimentos com a internet, com as redes, com toda uma outra maneira de se comunicar. E isso ele faz com uma antecipação  muito clara, ou seja, ele já falava de transmídia na década de 70″.

Karl Erik Schøllhammer, ressalta a importância da obra de Rubem. Foto: JP Araújo.

Segundo Vera Figueiredo, as contribuições sociais de Rubem impactaram também o meio acadêmico. A obra do escritor é base de diferentes pesquisas e estudos que envolvem literatura brasileira,  cinema brasileiro e as representações de narrativas urbanas latino-americanas.

“Ele tem uma sintaxe narrativa com cortes e recortes que remetem para as montagens cinematográficas. Então, ele sempre busca com a linguagem verbal uma dimensão de simultaneidade que é própria da imagem. Isso estreita relações da literatura dele com uma linguagem de cinema. Embora ele tenha sido muito adaptado para o cinema, as obras cinematográficas ou televisivas não alcançam o impacto que a literatura dele alcançou, mas há uma estreita relação entre o cinema e a obra do Rubem, tanto pelas adaptações como pelo tipo de linguagem que ele utiliza”.