Duas mães, dois filhos e um Comunicar. Em 35 anos de vida, o Projeto já transmitiu conhecimentos e experiências a mais de uma geração. Os jovens estagiários dos primeiros anos cresceram, construíram famílias, e alguns dos descendentes repetiram os primeiros passos profissionais dos pais.
Diferenças entre as gerações
A experiência de João Viveiros Jorge no Comunicar ocorreu de uma forma peculiar: durante a pandemia. Ele entrou em setembro de 2020 e saiu em fevereiro de 2022, quando as atividades voltaram ao presencial. João sentiu falta do contato pessoal com os colegas e chefes, pois valoriza esta interação, principalmente na PUC-Rio. O jornalista recém-formado enxerga a Universidade como um ambiente favorável à criação de contatos com outros profissionais da área e os estudantes, que entrarão no mercado de trabalho ao mesmo tempo que ele. Apesar disso, ficou feliz em passar por um estágio no lugar em que a mãe, Virgínia Maria Correia Viveiros, iniciou a trajetória no jornalismo.
— Quando eu entrei, esperava fazer a mesma coisa que minha mãe fez. Eu ouvia falar muito do Comunicar por causa dela, então coloquei como meta entrar no Projeto para conseguir, de repente, fazer uma carreira parecida com a dela ou pelo menos traçar dentro do Comunicar uma trajetória semelhante.
Embora mãe e filho tenham estagiado no Núcleo de Jornalismo Impresso, as realidades e funções foram diferentes. Enquanto Virgínia escrevia para o Jornal da PUC, João ficou envolvido com as tarefas do PUC Urgente, realizou entrevistas no formato ping-pong, mas a principal responsabilidade foi com as redes sociais. Ele revela que Virgínia não sabia identificar onde estava publicado o conteúdo produzido pelo filho, até porque muitos posts são veiculados por tempo limitado, como no caso dos Stories do Instagram. Atualmente, João trabalha com a comunicação do Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá.
— No início, eu não me via tanto neste mundo de redes sociais, mas acabou que o que eu fiz no PUC Urgente foi fundamental para conseguir o estágio em que estou. Hoje tenho uma opção de trabalho muito boa graças ao portfólio que tive nas redes sociais do PUC Urgente. Não era o que eu esperava, mas pode ter sido até melhor.
A mãe de João entrou no Comunicar em 1989 e passou dois anos no Núcleo Impresso. Apesar de trabalhar atualmente na área do Direito, ela reconhece que o aprendizado no Projeto ajuda até na profissão de funcionária pública do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. No jornalismo, Virgínia se habituou a ser concisa e a buscar as informações principais dentro de um texto. Hoje, ela consegue fazer o mesmo em um processo jurídico. O Comunicar foi a primeira experiência profissional da advogada, que aprendeu já no início da Universidade a escrever e a pensar em pautas. Ao saber que João iria estagiar no mesmo lugar, ela se recordou de sua juventude e transmitiu para o filho umas dicas preciosas.
— É a ocasião que você tem para experimentar. Aproveita essa chance que o Comunicar pode te dar que é você experimentar, ver o que você gosta, qual é a tua praia. Experimenta, vê se você gosta ou não, mas tenta, vai fazer, corre atrás, não desiste. Começa fazendo uma coisa na faculdade para você sentir o que você gosta mais.
As diferenças entre as gerações ficaram evidentes quando Virgínia pediu ao filho para ele mostrar no jornal o texto que havia escrito. Na era das redes sociais, no entanto, o trabalho de João não estava no papel, mas nas mídias digitais. Esta é apenas uma das mudanças na profissão que o jovem observa em comparação com o período de estágio da mãe. Virgínia não tinha o facilitador de fazer uma entrevista por chamada de vídeo. Para conversar com um professor, por exemplo, era apenas de forma presencial, bloco de notas e caneta na mão.
— O nosso dia a dia era o tempo todo ali na PUC. A gente ficava circulando pelos departamentos, via o que estava acontecendo. Era essa presença mais física. Não tinha um Zoom, não tinha essa possibilidade. A gente não tinha nem celular, ficava atrás dos professores com papelzinho.
Da Comunicação para o Direito
A juíza Flávia de Almeida Viveiros de Castro, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), é mais uma mãe que viu o filho seguir alguns de seus passos. Ela estagiou no Comunicar entre 1989 e 1990, no Núcleo Impresso, e acompanhou, no início dos anos 2000, a entrada de João Viveiros de Castro para a Assessoria de Comunicação Social. Após concluir a graduação, ele também deicidu trilhar um caminho no meio jurídico.
Apesar de ambos não terem permanecido no jornalismo, eles ressaltam que a passagem no Comunicar foi preponderante em suas vidas profissionais. Para Flávia, não seria possível passar na primeira prova do concurso de magistratura sem a objetividade e o poder de síntese que o Projeto conferiu aos seus textos. Em contrapartida, João destaca o aprendizado genuíno do trabalho em equipe e da necessidade de organização.
O filho de Flávia visitou suas memórias mais antigas e recordou os primeiros momentos no espaço do Comunicar, que ocorreram muito antes do ingresso como estagiário. Algumas vezes, ele foi levado à redação do Projeto pela mãe.
— Eu me lembro de ter ido quando era bem pequeno, por volta dos 6 anos. Minha mãe estava estagiando e me colocou numa sala muito grande (na perspectiva de uma criança). Puseram um telão, ou uma TV enorme, no qual passaram os jogos da Seleção Brasileira. Fiquei encantado com tudo aquilo – lembra João.
Anos mais tarde, Viveiros de Castro uniu a inspiração da trajetória materna com o incentivo dos colegas da Universidade, entusiastas do Projeto, e entrou para o que ele define como uma “escola modelo”.
— É um projeto de excelência, que consegue conjugar a parte teórico-acadêmica, ponto forte da PUC-Rio, com a experiência prática. O Comunicar tem esse verniz de ser uma escola de jornalismo, um estágio de verdade, no qual você está aprendendo e desenvolvendo as habilidades com os professores. E serve bastante para isso, para você começar a desenhar, trilhar a carreira, fazer um projeto de vida, em que você agrega pessoas ao seu entorno – afirma.
Mãe e filho destacam, ainda, o sentido acolhedor presente no ambiente do Comunicar. Segundo eles, o setor permite aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso e ser corrigido com afeto e familiaridade, traços que distinguem o Projeto da realidade do mercado. Além disso, Flávia estabelece o aspecto sempre jovem como outra característica relevante.
— Eu acredito que o Projeto mantém essa jovialidade, senão não resistiria às fortes alterações que ocorreram no ambiente da Comunicação Social durante esses últimos 20, 30 anos. O meu Comunicar não era o mesmo do João. Você tem que mudar de acordo com o que está colocado em sociedade. Por isso que é muito interessante, porque se faz uma imbricação, uma ligação entre o mimetismo de uma realidade do ambiente de imprensa, de rádio, etc, com a Academia, que vai dar o suporte de conhecimento para que não fique uma coisa muito rasa.