Departamento de Letras celebra 50 anos da Pós-Graduação com nova especialização e reforma na grade curricular de Artes Cênicas. Um dos primeiros cursos na fundação da Universidade, ele reúne no corpo docente nomes conceituados do universo literário brasileiro
Fundamental na história da PUC-Rio, o curso de Letras nasceu com a fundação das Faculdades Católicas, em 1940, como parte da Faculdade de Filosofia e registrava o maior número de alunos matriculados – 34 estudantes. Este ano, ao celebrar meio século de existência do Programa de Pós-Graduação, o Departamento de Letras inova mais uma vez e vai lançar uma especialização do curso de Artes Cênicas.
A área coleciona iniciativas como o primeiro curso de Tupi do Rio de Janeiro, criado pelo padre Antônio Lemos Barbosa, em 1946, e o desenvolvimento do Sistema Pronunciador de Textos, em 1990, um computador para cegos e mudos, em parceria com o Departamento de Engenharia.
Fundado no final da década de 1960 com a Reforma Universitária, o departamento estabeleceu um quadro docente com grandes nomes do cenário literário brasileiro como o teórico Luiz Costa Lima, os escritores Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, – na época diretor do departamento e presidente da Biblioteca Nacional –, a imortal da Academia Brasileira de Letras e Professora Emérita Cleonice Berardinelli, e um dos fundadores da Universidade e professor titular de Literatura Brasileira, Alceu Amoroso Lima.
Os professores contribuíram para dar visibilidade a estudos literários no país ao difundiram a temática por jornais, revistas científicas e outros meios de comunicação, com o objetivo de que a literatura fosse um assunto pertinente e permanente.
Da mesma forma, o departamento valoriza as trocas que promovem o saber como o Encontro Nacional de Professores de Literatura, que sediou por anos e reuniu pessoas do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais, Goiás e Bahia. Em 2017, a cantora Maria Bethânia lotou o auditório do RDC ao ler poemas de Fernando Pessoa com a professora Cleonice, para o lançamento do DVD O vento lá fora, de poemas do escritor português.
Ao longo do tempo, o curso recebeu a visita de figuras importantes como Ferreira Gullar, Nélia Piñon e o filósofo Michel Foucault. Em 1973, o pensador francês esteve no campus da Gávea para ministrar um ciclo de conferências sobre A verdade e as formas jurídicas – a investigação, a prova e o exame, organizado pelo então Departamento de Letras e Artes.
O mestrado teve início em 1970 com oferta de três campos de estudo – Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Língua Portuguesa. Logo depois, em 1973, o doutorado foi implantado – a PUC-Rio foi a terceira instituição a introduzir no país esta especialização na área. Em 2011, o departamento se reinventou ao reestruturar o Programa de Pós-Graduação, com uma visão moderna e transdisciplinar. Hoje, são dois programas – Estudos da Linguagem e Literatura, Cultura e Contemporaneidade – com nota 5 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
De acordo com o diretor do departamento, professor Alexandre Montaury, além de ter projetos relevantes, Letras também pode se orgulhar de formar pessoas que posteriormente se projetam na área. O investimento para que o corpo discente produza está marcado desde sempre nos anais do Departamento de Letras. Um exemplo foi quando dois alunos – Diana Bernardes e Sérgio Carvalho Pachá – foram contemplados com o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, do Prêmio Esso, em 1966. Montaury ainda observa que o leque de temas que são estudados pelos alunos e pesquisadores é bem diversificado e, muitas vezes, pouco convencional.
– Temos aqui pesquisas em torno dos movimentos de imigrações pelo mundo, que ajudam a instruir políticas públicas, pesquisas sobre o racismo, gênero e cultura. Assim como a de aquisição da linguagem, que vai estudar a forma como os bebês começam a construir a sua linguagem. Aqui temos um arco muito amplo de pesquisas em desenvolvimento com reconhecimento oficial – analisa Montaury.
Potencialidade
O interesse dos estudantes pela dramaturgia chamou atenção do Departamento de Letras para inaugurar, em 2009, a graduação em Artes Cênicas que, seis anos depois, vai lançar, em 2021, a especialização Corpo e Palavra nas Artes da Cena e da Imagem, sua primeira pós-graduação. De acordo com a professora Ana Kfouri, as aulas têm como objetivo atender tanto estudantes quanto profissionais das artes cênicas e, também, do mercado audiovisual.
– Esta especialização, que estou coordenando ao lado da professora Ana Kiffer, vai ser um diferencial do curso de Artes Cênicas e do Departamento de Letras. Durante um ano e meio, um roteirista de televisão, por exemplo, vai poder entender o trabalho de um ator, assistir a aulas com professores de atuação, roteiro para cinema, luz, entre outras funções, e ter uma visão muito mais ampla. Estamos cada vez mais entrecruzando pensar a cena, a imagem e a atuação nessas áreas – explica.
De acordo com a professora, a cada semestre artistas serão convidados para trocar com os alunos, em aulas intensivas. O curso será destinado tanto para os alunos, que podem sair da graduação e ir para a especialização, quanto a atores, diretores, roteiristas, escritores, pessoas ligadas às artes cênicas e ao audiovisual.
Outra novidade é uma nova grade curricular e atualização de um projeto político-pedagógico do curso que conserva os sólidos pilares desde a fundação. Segundo a coordenadora de Artes Cênicas, professora Fernanda Bond, essa otimização tem como meta potencializar e transformar o curso.
– A ideia é que nós possamos atualizar o projeto político-pedagógico que foi construído no início sem negá-lo, mas acrescentar a experiência que veio a partir dos anos. Pode gerar uma grande transformação. É nossa meta e desejo. Ao pensar nas perspectivas futuras, o que tem de mais próximo do que estamos trabalhando é a renovação deste projeto e uma atualização da grade curricular para tentar deixar o curso cada vez mais potente – afirma a coordenadora.
Fernanda Bond
O curso disponibiliza o Laboratório de Artes Cênicas para criação, pesquisa, reflexão e estudo práticos e também realiza ações pelo campus por meio do Mostra Bosque (PUC Cena) e Mostra Bosquinho. Para a professora Fernanda, ao explorar o espaço físico da Universidade, é possível tecer uma rede de conhecimento entre alunos de vários períodos. – Além de funcionar como uma ocupação do campus com a arte, a Mostra leva o curso para outros espaços, para o mundo real de produção. Gera uma rede, mistura os veteranos com os calouros e os alunos conseguem praticar questões trabalhadas em sala de aula – diz Fernanda.