Os modernos laboratórios, a qualidade do quadro docente e a proximidade dos alunos com os professores fazem do departamento uma referência na graduação e na pós-graduação. Pioneiro no campo da química analítica no país, o DQ, que completou 60 anos em 2019, foi fundamental para a expansão dos estudos da área no Brasil

Com o advento da pandemia da Covid-19, o Departamento de Química se empenha no desenvolvimento de máscaras virais que podem ajudar no combate ao coronavírus. O projeto é uma parceria com o Inmetro e a Coppe/UFRJ, e é a fabricação de um modelo feito com tecidos compostos por nanopartículas que atuam como filtro para os elementos virais respiratórios. O trabalho é mais uma prova do que o Departamento de Química desenvolve há seis décadas: uma mistura de ousadia, pioneirismo e pesquisa científica de qualidade.

A trajetória do DQ na PUC-Rio teve início quando o padre austríaco-brasileiro Leopoldo Hainberger, S.J., recebeu a incumbência da Ordem dos Jesuítas de fundar um instituto de química, o que realizou em 1959.  Sem formação no setor, o jesuíta retornou ao país de origem para concluir o doutorado em química e foi orientado pelo lendário professor Fritz Feigl, criador da teoria da Análise de Toque – técnica simples em que provas analíticas são executadas em poucas gotas de soluções sem qualquer instrumentação sofisticada.

O fundador do DQ Padre Leopoldo Hainberger, de branco, em um dos primeiros registros do Departamento | Foto: Acervo Pércio Mardini Farias

Com doutorado e grande interesse na química analítica, Hainberger voltou ao Brasil entusiasmado para dar continuidade ao projeto do DQ. O jesuíta procurou recursos nos Estados Unidos, sem sucesso, e na Alemanha. O governo germânico demonstrou interesse e impulsionou a criação do departamento, inaugurado em 1969. Até que o prédio ficasse pronto, as pesquisas funcionaram por algum tempo na Vila dos Diretórios.

Após a construção, o DQ passou a abrigar os cursos de graduação em Engenharia Química – que atualmente tem departamento próprio, o DEQM – e graduação e licenciatura em Química. Leopoldo Hainberger permaneceu como diretor do departamento até o início dos anos 1980 e era considerado respeitosamente como o “dono” do DQ. O professor Pércio Mardini Farias, que chegou à Universidade em 1973 e se aposentou em 2019, revela que considera o padre jesuíta como um “pai científico”.

– Uma das melhores coisas da minha vida foi ter conhecido o padre Leopoldo Hainberger. Uma vez construído o prédio, ele conseguiu ajuda da Bayern, da CAPES e do CNPq, que já tinha certo poder e recursos na época, para início da pós-graduação do Departamento de Química dentro da área de química analítica inorgânica. O padre tentou preservar o máximo possível e não sair desta área durante o período à frente do departamento. A pós-graduação começou no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, pouco antes da minha chegada à PUC.

Farias, que foi diretor do DQ por 14 anos após o falecimento de Hainberger, em 1988, lembra que os alemães não só ajudaram a construir o departamento, mas também forneceram os primeiros professores. Ele conta que o DQ foi inspirado no então recém-criado Departamento de Física, mas recebeu influência também da concepção das universidades alemãs.

– Era um departamento novo, poucos professores e pesquisadores, a maioria dos aparelhos eram espectrofotômetros de absorção molecular e outros mais simples. Havia vários professores da Alemanha, dentre eles Norbert Fritz Miekeley. Meus colegas eram professores experientes de várias universidades do Brasil, estavam fazendo mestrado já com idade avançada, e eu, extremamente jovem, com 22 anos. A experiência com os colegas e professores foi impressionante.

Professor Pércio Mardini Farias em laboratório do DQ, em 1984 | Foto: Acervo pessoal

Química com equilíbrio

No mesmo ano da inauguração do Departamento de Química, teve início o programa de pós-graduação da área na Universidade com o mestrado e, em 1971, o doutorado começou a ser oferecido.

O DQ é pioneiro no campo da química analítica no país. O diretor do DQ, Ricardo Aucélio, revela que a Universidade formou muitos professores que, posteriormente, voltaram para os estados de origem e fundaram departamentos de analítica nas instituições onde trabalhavam. A ideia de Hainberger de manter o DQ apenas nesta área, entretanto, não se sustentou com o avanço dos estudos em outros campos de pesquisa.

– Por conta do perfil do padre Hainberger, a pós-graduação foi voltada para química analítica. Não era das áreas tradicionais da época, só existia aqui e na USP, nasceram paralelamente. Posteriormente, criou-se aqui também o Departamento de Química Inorgânica. A partir de 2010, decidimos ter as quatro áreas: orgânica, inorgânica, analítica e físico-química. Aproveitamos a aposentadoria de professores antigos e contratamos perfis para termos as quatro áreas equilibradas. A analítica ainda é a maior, porém dividida em analítica tradicional e ambiental, uma área forte do DQ – explica Aucélio.

O diretor do Departamento de Química, Ricardo Queiroz Aucélio | Foto: Catarina Kreischer

Para Aucélio, a proximidade dos estudantes com os docentes e a infraestrutura dos laboratórios são pontos positivos da graduação na PUC-Rio. Durante o curso, os alunos têm oportunidade de interagir com os professores em projetos de iniciação científica e desenvolvimento tecnológico.

– O que pretendemos fazer futuramente é que, a partir do momento que o aluno entre, ele receba um projeto pessoal para desenvolver ao longo dos quatro anos. Este projeto será administrado por uma banca de professores, um comitê. A ideia é que o aluno tenha, de início, uma responsabilidade científica. Temos uma excelente infraestrutura instrumental, temos laboratórios dedicados à inorgânica, orgânica e analítica. Existem laboratórios específicos, o que é uma vantagem importante.

Ricardo Queiroz Aucélio

Em 2014, a diretoria do DQ idealizou a criação da Central Analítica. Aucélio conta que, anteriormente, para usar os equipamentos, os alunos de pós-graduação tinham que pedir permissão para os professores. Com a Central, os estudantes podem agendar o uso dos modernos laboratórios, com um técnico à disposição para ajudá-los. Para o diretor, este processo desburocratizou o uso dos espaços e faz com que os alunos consigam extrair mais dos equipamentos.

– Resolvemos criar a Central, em parte, porque já era uma ideia nascente, mas isto efetivamente foi impulsionado pela morte do professor Reinaldo (Calixto, ex-Decano do Centro Técnico Científico). Ele deixou uma série de equipamentos que absorvemos nessa primeira fase da Central Analítica. A segunda fase foi a compra de instrumentos de grande e médio porte via financiamentos da FINEP. Os custos de manutenção dos equipamentos são divididos entre os usuários – completa Aucélio.