Momentos perpetuados pela fotografia

Momentos perpetuados pela fotografia

Ex-fotógrafos do Comunicar celebram os 35 anos do projeto e trazem para o primeiro plano os impactos da experiência como estagiários para a vida pessoal e profissional. Em uma perspectiva nostálgica e de gratidão, os agora profissionais remontam a composição de cerca de 180 mil fotografias que perpetuam esta narrativa, e lembram valores como amizade, companheirismo, dignidade, diversidade, paixão e respeito. No retrato, também é capturada a necessidade de registrar os próximos anos do Comunicar, o que realça o papel fundamental do fotógrafo nesta exposição.

Ex-estagiário do Comunicar e atualmente responsável pela disciplina de Fotojornalismo, o professor Weiler Finamore comenta que o papel da fotografia é perpetuar um momento. Ele complementa que o acervo de fotos do projeto traduz inúmeras histórias, algo que supera a própria narrativa do Comunicar.

– A fotografia é uma forma de capturar um momento e perpetuá-la. É uma técnica que permite congelar o olhar humano. Ter um acervo de fotos é muito positivo, inclusive para o Comunicar, porque conta mais do que a história do projeto. São mais de 180 mil fotografias, tiradas ao longo dos 35 anos. É o suficiente para contar não só uma história, mas várias.

Weiler diz que a experiência propicia ao estagiário uma oportunidade de vivenciar a realidade do mercado, mas sem a cobrança do mesmo. O fotógrafo afirma que os aprendizados no Comunicar complementam, até hoje, a vida profissional e pessoal dele.

Weiler Finamore, de branco, conversando com o ex-reitor da PUC-Rio Padre Josafá, S.J. Foto: Núcleo de Memória da PUC-Rio

– O Comunicar tem a demanda do mercado: quer ser como um veículo de informação, uma empresa jornalística, porém sem a pressão. Eu levo o que aprendi no Comunicar para vida pessoal e profissional, e ensino estes aprendizados na sala de aula, por exemplo. A experiência transborda a minha fotografia pessoal, e está presente, inclusive, na arte que ensino para minha esposa, filhas e alunos. Foram 20 anos de experiência inenarráveis.

O professor diz que o Comunicar é um lugar de empatia. Por isto, se precisasse registrar o projeto em uma única captura, ela teria esta qualidade como elemento central da foto. Ele completa que a vivência no projeto foi recheada de momentos de alegria, diversão e aprendizado.                                                                                                                                                                                                                                                         

– Acho que se tivesse uma foto que representasse o Comunicar, ela se chamaria “Empatia”. É de uma riqueza pedagógica e humana incrível. Eu aprendi no projeto a doar, desde sempre, não só para o Comunicar, mas a todos que passaram pela experiência. Como um pequeno lavrador que prepara a terra e semeia algumas sementes. Foi uma experiência extremamente enriquecedora e divertida. Um aprendizado espontâneo e natural.

Ex-fotógrafo do projeto pelo período de um ano entre 2002 e 2003 e atualmente fotógrafo do Jornal O Globo, Marcos Serra Lima  diz que a fotografia é uma maneira inovadora de traduzir narrativas. E comenta que o acervo de fotos ajuda a reproduzir, sob a percepção dos próprios alunos, a história do Comunicar e da Universidade. 

– A tradição oral e a literatura contam momentos sem imagens há milhares de anos e, por isto, o surgimento da fotografia permitiu uma nova forma de contar estas histórias. O acervo do Comunicar é o patrimônio maior: o somatório desses registros cotidianos da Universidade, contados pela sensibilidade de cada fotógrafo que passou pelo projeto. Tenho orgulho de fazer parte deste acervo.  

Marcos Serra Lima no Comunicar. Foto: acervo PUC-Rio

Ele afirma que o tempo que passou pelo projeto fez com que aprendesse a importância de pensar uma foto antes de apertar o disparador da câmera, uma vez que, na época, não era possível ver o resultado de imediato. Lima destaca ainda que a busca por engajamento nas redes sociais é um obstáculo para a captura de uma boa foto.

– Imagine ir para uma pauta e ter que contar visualmente esta matéria com apenas seis fotos. São seis chances de apertar o botão disparador, sem poder sequer conferir o resultado na hora. Não é algo do século passado, e sim de 2001, quando eu ainda estava no Comunicar. Descrever esta época pré-digital da fotografia em que trabalhávamos com filme me faz entender como as limitações tecnológicas davam aos fotógrafos a obrigação de serem absolutamente precisos. Pensava-se muito mais antes de cada clique. Hoje em dia, vemos o contrário. Num tempo medido por likes, a busca por aplauso atrapalha muito a construção de um olhar exclusivo.

O fotógrafo aproveita para recordar de uma história. Segundo ele, o cantor Gilberto Gil visitou a PUC-Rio quando era Ministro da Cultura para participar de um encontro. O artista vestia terno e gravata, porém calçava sandálias, que contrastavam com os sapatos envernizados das demais autoridades presentes. Lima lembra que um grande arrependimento da própria carreira foi não ter conseguido registrar o rosto e os pés de Gilberto Gil na mesma foto, porque não tinha uma lente que abrisse o suficiente para isto. Apesar de não ter conseguido fazer a foto perfeita, Lima já havia desenvolvido, com apoio do Comunicar, o raciocínio e o olhar de um fotógrafo profissional. 

Felipe Fittipaldi, estagiário do Comunicar entre 2002 e 2003 e atualmente freelancer para o National Geographic e O Globo, reforça que a fotografia é uma forma de dizer algo de maneira universal, já que é uma informação apenas visual. Ele, que foi selecionado pela World Press Photo Foundation para o 6×6 Global Talent Program, diz ainda que, o fato de ela estar a disposição cada vez mais das pessoas, ajuda na construção de vários acervos de memórias.

– A fotografia é uma forma poderosa de comunicação. Ela tem um formato de comunicação mais universal, e que hoje em dia é super democrático. Podemos dizer que a fotografia é algo cotidiano, do dia-a-dia, pois todo mundo está produzindo imagens. [Tirar fotos é construir] um arquivo de memória do que aconteceu, da história, do passado. E a imagem tem uma peculiaridade de ser uma informação exclusivamente visual, e que ainda consegue marcar um tempo.

Felipe Fittipaldi no projeto. Foto: acervo PUC-Rio

Fittipaldi complementa que a experiência no projeto foi decisiva para a escolha da profissão. O fotógrafo conta que, se pudesse fotografar o Comunicar em apenas um registro, seria com as pessoas que fizeram parte da trajetória dele na experiência.

– O Comunicar foi fundamental para minha profissão. Sempre quis ser jornalista, mas o texto nunca foi a forma que eu me expressava melhor. Ficava me perguntando se era possível viver como fotógrafo, e tive, no Comunicar, um feedback muito legal tanto do público quanto do Weiler. Assim, tive confiança para escolher isso como profissão. E deu muito certo. Já viajei o mundo por conta do trabalho e conheci um monte de gente. Por isso, se eu tivesse que registrar o Comunicar em uma foto, seria com as pessoas que eu convivi na experiência. Um retrato em grupo dos que foram do Comunicar e que fazem parte da minha vida, porque, além do trabalho, o que ficou marcado é a rede de apoio, a comunidade do Comunicar.

O ex-estagiário afirma que o acervo de memórias brasileiro é defasado, em especial se comparado a outros países como a Itália. Ele completa que o Comunicar necessita preservar a própria história por meio das fotos para servir como referências pelas e para gerações que ainda estão por vir.

– Na Itália, por exemplo, a gente vê que a história é muito bem guardada, com uma busca constante em preservar e documentar, inclusive com institutos que conseguem organizar e guardar este material. No Brasil, preservamos pouco a memória. A tragédia recente no Museu Nacional é um exemplo. Preservar e valorizar as fotos é muito importante, e no Comunicar não é diferente. Um lugar que já formou grandes profissionais merece ter o arquivo guardado pelas e para as futuras gerações.

Foto produzida por Fittipaldi para o Projeto Senegal. Foto: Felipe Fittipaldi