Desde a criação do curso, na década de 1950, o Departamento de Física desenvolve estudos que consagraram a PUC-Rio como uma das principais referências latino-americanas em ensino e pesquisa da área. Intercâmbio com outros países é uma característica marcante do trabalho em equipe realizado nos laboratórios do setor, equipados com tecnologia de ponta como o acelerador Van De Graaf

A origem do Departamento de Física foi o Instituto Costa Ribeiro de Física e Matemática, fundado em 1957 por iniciativa do padre Francisco Xavier Röser, S.J. (1904-1967).  Austríaco, físico nuclear com reputação internacional, ele atuou em grandes centros de pesquisa da Europa e dos Estados Unidos. Ao ser convidado para fundar um instituto, Röser desejou montar um centro brasileiro com a mesma tecnologia com que trabalhou no exterior. O jesuíta foi um dos pioneiros do estudo da radioatividade natural no Brasil e estabeleceu forte ligação com o país, tanto assim que recebeu, em 1963, o título de Carioca Honorário conferido pelo jornal O Globo.

O fundador do Departamento padre Francisco Xavier Roser, S.J, e um dos conselheiros padre Thomas Cullen | Foto: Acervo Núcleo de Memória da PUC-Rio

Desde o início, a equipe da Física da PUC-Rio esteve envolvida em projetos fundamentais para a ciência brasileira, como a organização do Curso de Atualização de Pessoal Especializado em Raios-X e Isótopos, em 1958, cujo objetivo foi esclarecer médicos e especialistas sobre os perigos das radiações. Também entre 1957 e 1958, um grupo de professores e estudantes de engenharia e física contribuiu com a Comissão Científica da ONU em medições, em todo o país, dos efeitos radioativos de bombas nucleares.

A primeira turma de estudantes foi constituída em 1960 e, ao longo desta década, o Instituto trilhou um caminho de consolidação. Para compor a identidade do departamento, os alunos fizeram uma votação para escolher uma mascote e elegeram o Professor Pardal, personagem do estúdio de Walt Disney que é um inventor. A primeira turma do Instituto de Física se formou há 56 anos. 

Cerimônia de formatura da primeira turma do Instituto de Física | Foto: Acervo Núcleo de Memória da PUC-Rio

O mestrado foi criado em 1965 e, três anos depois, o doutorado passou a ser oferecido. Na década de 1960, houve uma grande reforma acadêmica, a Universidade reestruturou os cursos de graduação e pós-graduação e instituiu o Centro Técnico Científico. Assim, o Instituto de Física da PUC-Rio, IFUC, tornou-se o atual Departamento de Física.

O departamento foi concebido para produzir estudos de qualidade, o que tornou a Universidade pioneira no Brasil neste campo. Os trabalhos trouxeram visibilidade e transformaram a PUC em um dos três melhores centros de investigação em Física do país, com três linhas de pesquisas estabelecidas: de física nuclear, de estado sólido e de partículas elementares. E a produção desenvolvida nestes anos todos pelo corpo docente e discente levou também a instituição a ser uma das principais referências latino-americanas no ensino e na pesquisa em Física.

Segundo o diretor do departamento, professor Rodrigo Prioli, a maior parte das pesquisas dos professores e alunos é desenvolvida nos laboratórios montados no campus da Gávea. O diretor ressalta que existe parceria com outros cursos da Universidade, que participam e colaboram ativamente dos projetos. 

– Temos atividades muito grandes aqui na física, como a fabricação, a produção e a caracterização das propriedades físicas de materiais, enfim, toda uma infraestrutura voltada para essas práticas. Acho que nós contamos com um conjunto forte de tarefas que têm liderança em relação à física no Brasil e temos o papel de vanguarda em relação ao o que é feito lá fora.

Rodrigo Prioli
O diretor do Departamento de Física, Rodrigo Prioli

Professor titular do departamento, Enio Frota se formou na graduação da Física em 1966 e, mais tarde, em 1999, fez o mestrado na PUC-Rio. Ele destaca alguns nomes que foram fundamentais para delinear o sucesso do departamento, entre eles padre Francisco Röser, o Vice-Diretor, Pierre Lucie, e o líder do grupo de física nuclear, professor Alceu de Pinho Filho, que morreu em janeiro deste ano. Frota afirma que houve ajuda de profissionais conceituados, como o professor da UFRJ Joaquim da Costa Ribeiro, o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Hervásio de Carvalho, e o ex-diretor do CNPq João Christovão Cardoso.

Estas três pessoas, recorda o professor, agiram como “conselheiros notáveis” de padre Röser para a organização do Instituto. Por causa da atuação deste grupo, foi organizada uma espécie de segundo escalão, com pessoas convidadas, para assessorar a direção do curso de Física. Assim, professores e pesquisadores como o líder do grupo de partículas elementares, Erasmo Ferreira; o de estado sólido, Sérgio Costa Ribeiro; o de radioatividade natural, padre Thomas Cullen, S.J.; e o de física teórica e ótica, Moisés Nussenzweig, ajudaram a construir o trajeto do departamento. Assim como padre Röser, Pierre Lucie e padre Thomas Cullen foram agraciados, em 1967, com o título de Carioca Honorário.

Intercâmbio e qualidade teórica diversificada

Frota observa que, apesar de ter uma estrutura pequena, o departamento dispõe de um corpo docente muito bem selecionado por meio de concursos que escolhem candidatos de dentro e de fora do país. Segundo ele, ter pessoas de outros lugares faz com que o departamento apresente uma qualidade teórica diversificada e, por outro lado, estabeleça um forte intercâmbio de informações com diferentes centros de pesquisa.

– O departamento sempre foi aberto, as vagas sempre foram feitas mediante concursos para o mundo todo. Isto mostra que ele tem bastante visibilidade internacional, o que atrai essas pessoas e, ao mesmo tempo, nos mantém em contato com o mundo inteiro. Nós analisamos os candidatos conforme a experiência didática e científica de cada um, um ponto importante para se encaixar no corpo docente.

O professor titular do Departamento de Física, Enio Frota | Foto: Amanda Dutra

Estabelecer parcerias e intercâmbios é uma forte característica da Física da PUC-Rio desde a fundação, e os planos para o futuro apontam para novas perspectivas de internacionalização. A questão dos avanços científicos é algo que os professores destacam para alinhar as pesquisas à modernidade. O diretor do departamento ressalta que as relações entre os institutos no mundo é algo inevitável em uma sociedade globalizada, com avanços tecnológicos que a fazem ficar cada vez mais conectada.

– Atualmente, nós estamos em um ambiente em que tudo muda muito rápido. Eu vejo o curso de física inserido neste cenário, cada vez mais internacionalizado. É possível que o departamento mostre mais conexões com outros centros, tanto do Brasil quanto de fora. Este número de professores de fora do país também tende a aumentar, e isto nos afeta diretamente, de forma positiva – diz Prioli.

Física moderna

A notoriedade das atividades realizadas na PUC-Rio, aliada ao pioneirismo do departamento, contribui para o estabelecimento de parcerias entre o setor e empresas do Brasil. Frota, que já ocupou a direção do departamento, observa que o investimento aparece à medida que o desenvolvimento científico tecnológico é reconhecido.

– Acredito que o futuro será isso: todos nós atentos a uma física moderna, como ela se dirige e como ela poderá ter aplicações sociais. À medida que nós atendemos a estes critérios, nós recebemos um financiamento. Isso é comum nas universidades privadas e federais.

Instalado em 1972, o acelerador eletroestático Van de Graaf  foi um dos primeiros do Brasil e se tornou um dos grandes destaques do ponto de vista experimental da física. Por trabalhar com uma faixa de energia baixa e usada para aplicações na área de física de materiais, o acelerador é procurado por profissionais para realizar estudos e pesquisas em Física Atômico-molecular, Física da Matéria Condensada (filmes finos e superfícies de sólidos), Ciência e Análise de Materiais, Astrofísica (simulações em laboratório). Além da jornada e do crescimento, o departamento também coleciona histórias surpreendentes. Em 2017, durante o período em que ministrava aulas no curso de Física da Universidade, o professor italiano Daniele Fulvio identificou um asteroide, e colegas astrônomos indicaram o nome dele ao Grupo de Trabalho pela Nomenclatura de Corpos Pequenos (CBSN). O físico foi o primeiro profissional da área astrofísica experimental a receber a homenagem no Brasil. Depois de nomeado, o asteroide 11465 recebeu um novo título: Fulvio.