Liberdade de expressão e interdisciplinaridade são as bases do Departamento de Biologia. Mudança para um novo prédio no campus da Gávea, implantar a pós-graduação e estabelecer parcerias com instituições estrangeiras são alguns dos planos para os próximos anos
Criado quando a PUC-Rio comemorava 70 anos de existência, o Departamento de Biologia é um dos caçulas entre os 27 existentes na Universidade. O curso tem uma concepção contemporânea do papel do profissional da área, e a sua estrutura é marcada pela interdisciplinaridade e por oferecer disciplinas atípicas na formação de um biólogo. Com quase dez anos de existência, o departamento conseguiu as duas maiores notas nas avaliações do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
A graduação em Biologia é um antigo desejo do Reitor padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., e da professora Rejan Bruni. E o projeto se tornou realidade no início de 2011, com a Aula Inaugural Mudanças climáticas: desafios para os próximos biólogos, ministrada por padre Josafá para os professores e os novos alunos do Curso de Ciências Biológicas, na unidade da PUC-Rio na Estrada Santa Marinha.
Diretora do departamento, Rejan destaca que é preciso entender a complexidade do mundo com um olhar multilateral. Para a professora, o diferencial do curso é formar profissionais que gerem conhecimento, mas que também saibam trabalhar com comunidades adjacentes.
– Nós precisamos nos mover, nos permitir andar até o ponto de vista que um outro profissional tem sobre aquela questão ambiental para entender a complexidade do outro. Não se pode olhar, por exemplo, para um produtor rural que joga fogo na terra como uma prática e herança cultural indígena, e achar que ele deve ser expulso só por causa do ato. Isso é olhar primeiro para o objetivo, que é conservar a unidade. Só que também existe uma tradição cultural, que é um bem, que é preciso preservar.
Rejan Bruni
A ideia de estruturar um departamento específico de biologia surgiu de conversas entre o Reitor e o Decano do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), professor Hilton Koch e, em 2013, o departamento foi criado. Com o projeto organizado, Rejan e padre Josafá recrutaram recém-doutores em ciências biológicas para compor o corpo docente. Segundo a diretora, todos os integrantes da equipe ajudaram a consolidar e a integrar o perfil do curso. Inicialmente, o quadro docente era formado por padre Josafá, professor Henrique Bastos Rajão Rei, Alexandre Gabriel Christo e pelas professoras Jakeline Prata de A. Pires e Rejan Rodrigues Guedes Bruni.
A licenciatura começou em 2016, com diferencial na formação de professores que promovam o pensamento crítico e a conscientização do valor que a natureza tem em si. De acordo com Rejan, os profissionais são aptos a lecionar tanto para estudantes que apresentam equipamentos modernos quanto para os que dispõem apenas de recursos ambientais. Padre Josafá ressalta que o curso veio para suprir uma lacuna da PUC-Rio na área biológica e que a ideia foi montar uma grade curricular diferente.
– Ele nasceu com uma nova proposta interdepartamental, inovadora e distinta de outros cursos de biologia existentes no Rio de Janeiro.
A graduação também procurou inovar ao implantar outros formatos de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que sejam exclusivamente a monografia. Rejan afirma ser uma questão de coerência, pois é preciso permitir que o estudante se expresse da melhor maneira como um biólogo que pode atuar em áreas diversas, além do meio acadêmico. Ela cita como exemplo alunos que elaboraram projetos sobre o campus da PUC-Rio e parques de outros estados.
– O importante é que a pessoa seja boa e capaz de levar e falar da Biologia de diferentes maneiras. Se a forma de expressão se dá pela via artística, pela transmissão do pensamento que não o acadêmico, esse aluno tem que ser valorizado. Para um TCC, uma de nossas alunas fez um guia medicinal utilizando o QR Code com as plantas do Jardim Bíblico. Agora, nós estamos fazendo novas placas com os símbolos para colocar no Jardim.
A graduação de Ciências Biológicas funcionava no Espaço Graziela Barroso, que permitia os estudantes fazer biologia no mundo, fora do espaço da Universidade e com contato com diferentes ambientes. Com a invasão da Rocinha em 2017, o curso precisou se realocar temporariamente no Centro de Pesquisa Padre Matteo Ricci. E, para 2021, está prevista a mudança para o campus da Gávea, perto das sedes do Serviço Social e de Artes & Design. O novo edifício vai se chamar Luiz Cyrillo Fernandes, engenheiro e ex-aluno da Universidade, que fez doação para a construção do prédio.
– Ter um prédio próprio é um sinal da solidariedade dos ex-alunos, e uma indicação da relevância da área biológica para o futuro da instituição – comenta padre Josafá.
Apesar das dificuldades, a diretora salienta que as mudanças não impediram o corpo docente e o discente a se refazerem na Universidade e continuar com a mesma excelência.
– O departamento de Ciências Biológicas é vívido. Mesmo depois de várias pancadas, nós conseguimos nos refazer e olhar para o futuro com esperança. A partir de agora, o caminho será de implantar a pós-graduação e fazer parcerias com instituições estrangeiras que tenham o perfil para complementar as linhas de estudo que achamos coerente.