Comunicar: extensão de casa

Comunicar: extensão de casa

Quando pisou na PUC-Rio pela primeira vez como aluna, em 1990, Renata Arruda Ratton jamais imaginaria que, depois de 32 anos, estaria na Universidade como assessora de comunicação da Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos (VRA-PUC-Rio). A história da primeira subeditora do Projeto Comunicar e a jornalista responsável por colocar o Jornal da PUC na internet nunca mais se desvinculou da PUC-Rio.

Desde a infância, Renata gostava de ler, de escrever e, apesar de tímida, sempre foi comunicativa. Estas características a distanciaram da escolha pelo curso de Medicina ou algum da área das Ciências Exatas. Diferentemente das expectativas do pai, a inclinação para as Ciências Humanas não significou atração pelo Direito, mas pela Comunicação. Mas ela não queria nada com o Jornalismo.

— A minha ideia era fazer Propaganda. Eu achava que o Jornalismo ia ter que passar muito perrengue na redação, e eu não me identificava com isto de jeito nenhum, de trabalhar em grande jornal, e achava que aquilo ali não tinha nada a ver comigo porque minha cabeça sempre foi mais para criação. Eu gostava de criar. A minha mente era criativa, achava que eu ia me dar bem Publicidade.

Perto do final da graduação, Renata teve a primeira experiência de estágio na área, mas se decepcionou com o ambiente. Decidiu, então, cursar a dupla habilitação em Jornalismo. Durante as aulas, conheceu o professor Fernando Ferreira, um dos fundadores do Projeto Comunicar, que associou o sobrenome de Renata ao do cineasta Helvécio Ratton, primo da jovem. O professor a convidou para fazer uma matéria para o Jornal da PUC sobre o lançamento do longa-metragem “Menino Maluquinho – O Filme”, dirigido por Helvécio. A entrevista saiu na edição de dezembro de 1994.

Primeira matéria de Renata Ratton para o Jornal da PUC (Reprodução: Jornal da PUC)

Primeira passagem pelo Comunicar: estágio

Após esta experiência, Fernando incentivou Renata a fazer o processo seletivo do Comunicar. Ela passou na prova, entrou para o núcleo impresso e enfrentou um grande desafio já no primeiro dia: conseguir entrevistar Anthony Garotinho, candidato ao governo do estado na época. A estagiária recém-contratada conta que não fazia ideia do que iria perguntar e ficou desesperada. 

— O Fernando me pegou em cima da hora e falou ‘você vai lá’. Aí eu falei assim ‘quê?’. Ele me mandou fazer uma pergunta só, que era relacionada à educação. Anotei aquela pergunta, levei como se fosse os Dez Mandamentos. Eu me lembro que na hora que o Garotinho chegou com os assessores, eu falei assim: ‘Candidato, ééééé’. Quando eu fui ler a pergunta, eu gaguejei, todo mundo ficou olhando para  a minha cara. Eu fiz a pergunta, mas ele me ignorou solenemente.

Renata voltou frustrada para a redação e comentou com o professor que havia feito a pergunta. Ele a consolou e disse que estava tudo bem. Apesar do nervosismo na primeira experiência, Ratton se divertiu e aprendeu muito ao longo do estágio, principalmente com Fernando Ferreira, chefe de reportagem e seu orientador. Ela lembra ainda hoje dos ensinamentos do mestre sobre lead e título de uma reportagem, os dois momentos de prender a atenção do leitor.

Festa de aniversário de 10 anos do Comunicar, em 1997. Da esquerda para a direita: Renata Cantanhede, Silvia Pereira, Sandra Ferreira, Renata Ratton, Simone Meira e Daniel Pereira (Foto: Acervo pessoal)

Na rotina, Renata gostava de pensar pautas, sobretudo com os temas de arte e cultura, mas não deixava de fazer a ronda nos departamentos para escrever notas para o PUC Urgente. Dentre os trabalhos desta época, ela se recorda da digitação do discurso de posse do Padre Jesús Hortal Sánchez, S.J., como Reitor da Universidade e uma matéria sobre o advento da internet.

— No período de estágio, além do meio profissional, era sempre uma alegria. Tinha um pessoal também muito alegre, aniversários que eram sempre uma delícia, as reuniões de pauta. Tudo a gente trabalhava, mas se divertia. Saí com muita tristeza, porque amava aquilo ali. Eu sentia que era mais do que trabalho. Era como se fosse uma família, uma extensão da minha casa, e acho que muita gente sentiu e sente assim.

Primeira aluna contratada da história do Comunicar

Da esquerda para a direita: Sandra Ferreira, Renata Cantanhede, professor Fernando Ferreira, professor Miguel Pereira e Renata Ratton (Foto: Jorge Paulo Araujo / Núcleo de Memória)

Um mês depois do fim do estágio, Renata estava formada em Jornalismo e começou a procurar emprego. O professor Miguel Pereira, um dos fundadores do Comunicar, ficou de licença devido a uma pneumonia, e Fernando convidou a jornalista recém-formada para ajudá-lo com as demandas do jornal. Renata tornou-se, assim, a primeira subeditora contratada da história do Comunicar. Ficou responsável, entre outras funções, pela correção de matérias e orientação dos estagiários, dentre os quais o escritor Rodrigo Alvarez; o diretor de Jornalismo da Globo, Ricardo Villela; o repórter da GloboNews Guilherme Cardoso; e os atuais professores do Departamento de Comunicação da PUC-Rio Arthur Ituassu e Weiler Finamore. Mesmo com o retorno de Miguel ao trabalho, ela permaneceu no cargo.

— Eu me lembro de Fernando e eu disputando quem fazia o título mais rápido. Eu adorava diagramar, editar, sentar com uma página de jornal em branco e decidir o que ia entrar. A gente discutia, criava novas seções. Tudo que eu sei de jornalismo eu aprendi com os fundadores o Comunicar.

Ao longo de quatro anos, Renata fez perfil de algumas personalidades como Walter Poyares – assessor de Roberto Marinho – e Padre Fernando Bastos de Ávila S.J., fundador do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio. Identificou a necessidade de inserção digital e foi responsável por colocar o Jornal da PUC pela primeira vez na internet. Ela pôs, também, cores na primeira e na última páginas do jornal.

Renata Ratton entrevista o assessor de Roberto Marinho, Walter Poyares, em maio de 1996 (Foto: Acervo pessoal)

Em 1998, chegou ao fim a jornada de Renata Ratton no Comunicar, mas não na PUC-Rio. Ela participou de um processo seletivo para a assessoria de comunicação do Centro Técnico Científico (CTC) e conquistou a vaga. Num primeiro momento, não quis sair do Comunicar, mas enxergou a necessidade de se aventurar em outros locais de trabalho.

— Eu senti uma falta muito grande. Claro que tudo mudou lá no Comunicar, mas até hoje eu tenho uma saudade muito grande dos tempos do Fernando e do Miguel, porque posso dizer com tranquilidade: foi um dos tempos mais felizes da minha vida. Tudo que eu sei de jornalismo eu aprendi com eles.

Todo o período no Comunicar superou a primeira experiência negativa de Renata, quando ainda cursava Publicidade. Para ela, o Projeto permitiu a descoberta de como o mercado de trabalho deve ser: um ambiente profissional, com seriedade, mas com amizade e espírito de colaboração também. Além disto, ela percebeu no Comunicar que é possível ser criativo mesmo no jornalismo.

— A minha experiência no Comunicar foi uma experiência de criatividade que me abriu os horizontes, a cabeça e me preparou para desafios mais pesados. Aquela criatividade que eu procurava na Publicidade, encontrei no Jornalismo, no Comunicar, porque eu comecei a ver que você, no texto jornalístico, pode ser criativo. Claro que dentro de certos limites. Você não pode abusar, mas há espaço para criatividade, para fazer um texto leve.

Renata, de blusa vermelha, recebe uma surpresa no Comunicar após sua saída para o CTC. Na foto, ela recebe de presente um cachorro de pelúcia vestido de jornalista, batizado de Comuniquinho (Foto: Arquivo Pessoal)

CTC (1998-2007)

Em 1998, Renata migrou para o outro lado do Rio Rainha, do campus da Universidade, para trabalhar no Escritório de Desenvolvimento do CTC. Apesar das boas lembranças da saudade deixada pelo Comunicar, ela enxergou a importância de se abrir a novas oportunidades na instituição. Em um setor no qual predominavam pautas externas, Renata pôde acompanhar o nascimento e desenvolvimento de programas de empreendedorismo e o primeiro projeto do parque tecnológico da Gávea, que foi apresentado ao prefeito do Rio de Janeiro na época, Luiz Paulo Conde. 

— Quando fui para o CTC, acabei explorando coisas distintas, porque o nível de responsabilidade aumentou grandemente, porque ali já havia muito trânsito de empresários, de políticos, de gente que mexia de alguma forma com projetos na cidade. Acabou que a gente começou a ter uma ação muito mais externa durante um tempo. A minha evolução foi no Escritório de Desenvolvimento do CTC, onde trabalhei também muito em parceria com a incubadora.

Renata conta que neste período de mais atividades externas precisou praticar a língua inglesa, pois entrevistava estrangeiros de vez em quando. O desafio particular de entender o sotaque canadense a deixava “aterrorizada”. Depois de um tempo, ela passou do Escritório de Desenvolvimento para o Decanato e começou a fazer um trabalho mais interno. Neste período, realizou parcerias com a Agência PUC, para onde fez peças publicitárias, texto e release.

Um dos principais trabalhos de Renata durante seu período no CTC foi a organização de um livro com 96 ações da PUC-Rio na área de meio ambiente. Na época, o Vice-Reitor era Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., professor do Departamento de Geografia e botânico por formação, um dos principais nomes na atuação em prol das pautas ambientais da Universidade. 

— Eu tive a ideia de fazer uma revista sobre meio ambiente, que permeasse todas as pesquisas. Essa revista teve uma repercussão muito grande. A gente entrevistou professores de todos os centros e, principalmente no CTC, há um trabalho muito grande de Meio Ambiente.

Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos (2007-presente)

Esta produção trouxe visibilidade para Renata no ambiente universitário como um todo, o que deu a ela uma oportunidade na assessoria da Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos. Após o chamado do Coordenador Central de Planejamento e Avaliação Acadêmica da PUC-Rio, professor Luiz Alencar Reis da Silva Mello, ela começou a nova etapa em 2008. A visão sistêmica de Renata a respeito da Universidade foi fundamental para a missão atual. Na VRA, ela escreve sobre ensino e pesquisas da Universidade, atua nas redes sociais do vestibular, faz trabalhos internos, até auxilia em campanhas publicitárias e dá suporte à assessoria de imprensa. 

— Faço os encaminhamentos internos, divulgo do vestibular até a pós-graduação, atendo a todas as coordenações da VRA. Jogo nas onze: da rede social à publicidade, às matérias. É uma experiência muito boa porque posso conhecer bem a PUC, muitos professores, escrever sobre várias áreas. Não fico restrita a um centro, mas tenho uma visão global.